Ensaios Fotográficos

A metafísica da ausência

Change Size Text
A metafísica da ausência Marcelo Franco Bonifácio
Texto por Roger Lerina

A partir de meados de julho, as imagens do perfil @marcelofrancobonifacio começaram a chamar minha atenção no Instagram. Eram fotos de paisagens urbanas de Porto Alegre, invariavelmente em um preto e branco contrastado, quase sempre sem ninguém em quadro. Entrei na galeria do fotógrafo na rede social e a coleção de registros mostrou coerência estética e temática, revelando a beleza e a feiura de uma cidade habitada tão somente por asfalto e concreto, prédios e ruas, árvores e veículos.

Nos retratos de Marcelo Franco Bonifácio, cães e gatos aparecem com alguma frequência. Gente, somente silhuetas e sombras, às vezes uma criança. Das poucas vezes em que vi pessoas, eram moradores de rua dormindo – de olhos fechados, ausentes momentaneamente do mundo, como se fossem mais um elemento do mobiliário urbano.

Em tempos de isolamento social, em que a capital gaúcha passou algum tempo mais esvaziada – isso lá no começo da pandemia, porque hoje as ruas estão temerariamente cheias de novo –, as fotos de Marcelo revelam um caráter metafísico na arquitetura dura da cidade, como uma pintura de Giorgio de Chirico instiga o observador a divagar em suas ausências.

Marcelo é fotógrafo amador. Suas imagens são captadas no celular. Atualmente, trabalha com restauro de livros e venda de volumes, que deixa em consignação na livraria Ponto dos Livros (Av. Venâncio Aires, 449). Já trabalhou como teleoperador, porteiro, auxiliar administrativo e entregador do Correio do Povo. Acima de qualquer coisa, porém, Marcelo define-se como cinéfilo:

“Meu nome é Marcelo Franco Bonifácio, tenho 38 anos, sou porto-alegrense, moro na zona sul, no Cristal, desde os meus seis anos. Sou colorado. Gosto de tirar fotos do meu celular em preto e branco da cidade, em momentos do meu dia a dia, de locais que são bonitos, e ver da forma que as fotos ficam parecidas com as do século passado.

Gosto de fotografia em preto e branco pois os filmes que cultuo são assim e têm esses elementos da cidade. Tipo A Doce Vida, A Marca da Maldade, Alphaville, Daunbailó, Celebridades, Casablanca, O Selvagem da Motocicleta, Touro Indomável, A Montanha dos Sete Abutres, A Regra do Jogo, Em Busca do Ouro.”










RELACIONADAS
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Este texto faz parte da Parêntese #41. Assine e tenha acesso a todos os textos da revista, além da versão em PDF e demais e-readers para você ler onde quiser.

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.