Ensaios Fotográficos

Ausência, isolamento, reflexão

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Ausência, isolamento, reflexão

A pandemia não acabou. Apesar da flexibilização das regras de distanciamento social, o momento que vivemos inspira cuidados. Tempos sombrios, que há pouco mais de seis meses não poderíamos imaginar. 

Durante o período mais alarmante da pandemia experimentamos sentimentos de ausência e isolamento. A falta das relações humanas afetou a todos. Sentimentos intensos que também me levaram de volta a Kolmanskop através dessas imagens, registradas três anos atrás. 

Mas o que uma cidade fantasma no deserto da Namíbia teria em comum com Porto Alegre em tempos de pandemia? Os cenários são distintos, os motivos do vazio também, mas os sentimentos semelhantes que se fizeram presentes nas duas situações foram tão marcantes para mim, que foi inevitável relacionar esses dois momentos vividos resgatando essas fotografias.

Localizada 10 km a leste da cidade portuária de Luderitz, no litoral sul, Kolmanskop foi erguida em 1908 em função da exploração dos diamantes pelos alemães. Foi uma cidade próspera, com imponentes construções e grande circulação de pessoas. Mas com a mesma intensidade que cresceu, Kolmanskop se esvaziou. Quando do esgotamento do minério, em 1954, foi abandonada por seus moradores, restando um cenário desolador, onde a areia invade lentamente as construções em ruínas.

O cenário levava a pensar nas pessoas que ali viveram e já se foram, deixando tudo para trás. Era marcante a simbologia das portas, ou talvez portais para um outro tempo. As luzes dramáticas que permeavam a maioria dos ambientes, criavam uma atmosfera instigante de mistério. Fotografando incessantemente ia me envolvendo plenamente com o lugar. 

Por vários momentos, pude percorrer sozinha aquelas ruas e construções, onde o silêncio era quebrado apenas pelo ruído do vento e de meus próprios passos. A sensação de isolamento e ausência era intensa na cidade desabitada. Um sentimento muito parecido com o que vivenciamos no início da pandemia, quando as incertezas e o medo tomavam conta.

Hoje a euforia pela retomada das atividades é temerária. O tempo ainda é de incertezas, e novas adaptações se fazem necessárias. 

Que a ansiedade pelo retorno ao “antigo normal” não nos tire a capacidade de reflexão













Flávia Dalla Santa é arquiteta, fotógrafa e mergulhadora. Iniciou na fotografia em 2007, através do mergulho, e é Campeã Brasileira de Fotografia Subaquática (2017). Desde 2015 dedica-se à fotografia de natureza, acima e abaixo da linha d’água, aplicada à arquitetura de interiores em quadros fine art. Acompanhe seu trabalho no Instagram (@flaviadallasanta) e no site https://www.flaviadallasanta.com/.

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