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Bairro São João: entre a crise e a decadência

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Bairro São João: entre a crise e a decadência

CRISE do grego krisis, do mesmo étimo krino, separar, depurar, como se faz com o ouro, do grego krysós, onde está presente a raiz sânscrito kri ou kir, limpar, cujos indícios estão também em crisol e acrisolar. O Dicionário etimológico de Antenor Nascentes dá também os significados de momento decisivo, separação e julgamento. Há consenso entre diversos outros pesquisadores de que a crise leva à ruptura com o estado anterior. O novo rumo tomado pode ser de melhora ou piora, tanto em medicina como em sociologia, onde o vocábulo é muito usado. A julgar por nossos cientistas sociais e economistas, o Brasil está em crise desde o descobrimento. Ou, de acordo com os mais pernósticos, desde os tempos em que não podia contar com suas altas consultorias, planos e estudos. O cantor e compositor Tom Jobim advertiu os que não nos entendem com uma frase de grande sabedoria: “O Brasil não é para principiantes.”. A crise que mais nos afeta hoje é a econômica, desdobrada em várias outras. 

De onde vêm as palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa – Deonísio da Silva 


Em frente ao prédio do Colégio Benjamin Constant, um grande grupo de moradores de rua vive debaixo do Viaduto José Eduardo Utzig.

Decadência. de·ca·dên·ci·a. S.f. 

1. Estado daquele ou daquilo que decai, que se encaminha para a ruína; caimento, declínio; 2. Perda progressiva de poder, prosperidade ou valor; empobrecimento; Época em que algo ou alguém passa pelo processo de degradação; degenerescência, ruína moral; 4. JUR Perda de um direito por não ter sido exercido ou gozado no prazo legal; caducidade.

Dicionário Michaelis 


Na primeira metade do século XX, Porto Alegre experimentou um acelerado processo de crescimento urbano associado à expansão de seu parque industrial, que se articulava a uma rede de transportes de médio e longo cursos (navegação fluvial, ferrovia e aviação civil). O distrito industrial, constituído originalmente pelos bairros Navegantes e São João, e que posteriormente se expandiria para toda a zona norte da capital, concentraria o crescimento populacional da cidade no período.

Nós do Quarto Distrito – Alexandre Fortes.


Avenida Assis Brasil, 297. A maior parte dos imóveis comerciais estão abandonados ou para alugar. A pichação, a deterioração da fachada e as portas e janelas fechadas são praticamente a regra de todo comércio. 

Imóvel abandonado há anos na Augusto Severo, 41, quase esquina com a Benjamin Constant.

“São João – Trata-se de bairro que teve desenvolvimento paralelo com o do Bairro São Geraldo, com o qual ainda se confunde. Recebeu transporte coletivo, com os bondes “caixa de fósforo” da Cia. Carris Urbanos a partir de 1898. Tais bondes, já então, faziam fim de linha em frente à capela de São João Batista, que se tornou sede de curato em 1916 e paróquia em 1919.”

Porto Alegre – Guia Histórico – Sérgio da Costa Franco


Neste exato local em 1947 foi inaugurado o Cinema América. Também ali durante muitos anos funcionou um posto de gasolina.

Ampla sala comercial, localizada embaixo do Condomínio Mário Trindade, ao lado do Bourbon Assis Brasil. Atualmente está disponível para locação. Neste local durante muito tempo funcionou uma importante agência do Banrisul, local no qual trabalhou o ex-governador Olívio Dutra.

Antes da construção da capela de S. João, no Passo d´Areia, tudo aquilo por lá era pleno deserto. Só se via, de longe em longe, uma outra casinha, alvejando entre árvores como um ninho abençoado. Pelos vales corriam velhas cercas de maricás que cortavam os campos com diversos rumos, assinalando as terras de uns e outros moradores do lugar. As habitações eram em geral de pau a pique, com o copiar à frente e uma ou outra figueira brava ali por perto.

Paisagens Mortas – Aquiles Porto Alegre


Parada de ônibus na Avenida Benjamin Constant, há anos sem nenhum tipo de cuidado ou reparo por parte da prefeitura.

Quando, porém, os nossos avós começaram a procurar as praias, nos primeiros dias do ano de 1900, as morosas e rangentes carretas fizeram a sua primeira parada, depois de um dia de viagem, precisamente aí nesse descampando em frente à igreja de São João. Dizem que era espetáculo extraordinário a visão daquele conjunto de carretas, na madrugada tépida de janeiro, aprontando-se para a monumental partida dos banhos de mar!

Porto Alegre – Crônicas de minha cidade – Ary Veiga Sanhudo

Este prédio comercial, localizado quase ao lado da Paróquia São João Batista, já chegou a abrigar uma escola privada. Era um dos locais mais barulhentos do bairro: gritos de adolescentes se misturavam com o som caótico da Assis Brasil. Hoje está totalmente silencioso.

Benjamin Constant – Benjamin Constant Botelho de Magalhães, militar e político brasileiro (Niterói, RJ, 1836 – Rio de Janeiro, RJ, 1891). Aluno da escola militar em 1852, alferes em 1856. Esteve na Guerra do Paraguai, como capitão engenheiro, nos trabalhos de fortificação do acampamento de Tuiuti. Exerceu o magistério em vários estabelecimentos de ensino. Como ministro da Guerra do primeiro governo provisório republicano, remodelou o ensino militar no país. Assumindo a pasta da Instrução Pública, empreendeu a reforma do ensino primário, secundário, superior, técnico e artístico, em todo o território nacional, sob influência de August Comte. Atingiu o generalato, por aclamação, em 15 de janeiro de 1890. Em 28 de janeiro do ano seguinte o Congresso Nacional, em homenagem póstuma, decidiu fazer figurar perpetuamente o seu nome no Almanaque Militar (…)

Nome de rua: personagens e lugares das ruas de Porto Alegre – Berlane de Russo


Construção de 1924 na esquina da Avenida Benjamin Constant com a Rua Marquês do Alegrete. Neste local, hoje fechado, durante décadas funcionou um conhecido supermercado, e antes dele uma padaria.


(…) Ao colhermos dados para esta reportagem abordamos o revedmo. vigário de S. João, cônego Davi Rossa, como o coadjutor da paróquia, padre Alfredo Rossa, dois bons e antigos amigos do JORNAL DO DIA que facilitaram em tudo a tarefa da reportagem. Nessa oportunidade, declarou o incansável vigário de S. João: – A vasta zona de S. João teve nos últimos lustros um surto extraordinário de progresso de toda ordem, surgindo várias indústrias importantes. Também a assistência religiosa a dezenas de milhares de famílias operárias teve um cuidado todo especial por parte do Sr. Arcebispo, criando desde 1946, mais seis paróquias novas de extensa zona que, em 1931, ainda formava uma única paróquia surgindo, assim, da primitiva matriz de S. João, oito novas igrejas, incluindo a que fora desmembrada em 1932 (…). 

Jornal do Dia, 26 de agosto de 1956


Na Avenida Souza Reis, ao lado dos imóveis para alugar, boa parte das calçadas estão em péssimo estado. É um risco para os moradores idosos, em uma via de intenso fluxo de carros.

Cristiano Fretta é mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS, professor nos colégios Santa Inês e Santa Dorotéia. Autor de Chão de Areia (romance, editora Multifoco, 2015) e Tortos Caminhos (novelas, editora Multifoco, 2017), músico amador, desde sempre é morador da Zona Norte e pesquisador da história da região.

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