Ensaios Fotográficos

Benevolente Guru

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Benevolente Guru

Quando pensei em fazer uma série sobre o cartão-postal mais famoso de Porto Alegre, seu magnífico pôr-do-sol, tive muito medo de cair num clichê – e dos mais consagrados! Mas aí me lembrei o quanto eu adoro clichês, e isso me tranquilizou. Afinal de contas, se algo é repetido muitas vezes até se tornar uma ideia “batida”, é porque deve ser bom. Pelo menos é o que me soa lógico. É claro que sempre se tenta ser original, mas isso é extremamente difícil quando se trata de algo registrado tantas vezes.

Um dia desses, enquanto fazia fotos para este ensaio, me deparei com o seguinte obstáculo: as obras que dão continuidade à assim chamada revitalização da orla. Um belo ‘obstáculo’, diga-se de passagem, já que tem como objetivo aproximar ainda mais o porto-alegrense do rio Guaíba e do nosso querido pôr-do-sol. Como fazia tempo que não passava por ali, estava alheio a essa movimentação. Enquanto corria de um lado para o outro tentando achar o melhor ângulo, com menos poluição visual, vi o sol se pondo sem que eu tivesse conseguido tirar a foto que eu queria. Nesse momento, um homem que assistira toda a cena falou: “Bah, te escapou!”, e dava risada. Rendido ao bom humor daquele sujeito, respondi: “Não tem importância, amanhã tem de novo!”. 

O que eu acho curioso é justamente a relação que cada um estabelece com este evento. Para mim, como fotógrafo, a situação se impõe da seguinte maneira:

Sol – Eu estou aqui, pleno e belo para ser contemplado, admirado e registrado por vocês humanos, que morrerão muito, mas MUITO antes de mim. E como sou extremamente generoso e benevolente, simulo diariamente minha morte para que não se sintam tão sozinhos diante da sua própria finitude.

Eu – Mas precisa ser tão rápido, justo nas melhores partes?!? 

Sol – Claro que precisa, porque assim é a vida. Passa mais rápido nas partes melhores e demora mais em momentos não tão agradáveis. 

Eu – Captei! Captei a mensagem, incandescente guru! 

E aí me ponho a decifrar enigmas, pois como puderam ver ‘o meu sol’ é uma espécie de filósofo narcisista, que me desafia com seu brilho em milhões de intensidades diferentes, cada um em seu momento específico, com a sua própria forma de lidar, seu desafio, seu mistério.















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