Quando a fotografia foi inventada, foi vista por muitos como a documentação por excelência dos fatos, dos rostos, dos eventos. Nela estaria a verdade, nada menos que a verdade. Tanto foi assim que, quando de sua primeira popularização – os ateliês de fotógrafos se tornando acessíveis às classes médias – , a pintura entrou em crise. Se era para mostrar a dita realidade, a nova técnica ganhava fácil dos pincéis e tintas, dos claros e escuros. Simplificando, mas sem errar muito, pode-se dizer que a fotografia empurrou a pintura para a abstração, herdando dela a tarefa figurativa. Bem, claro que pintores minuciosamente realistas continuaram a produzir maravilhas encantadoras, assim como fotógrafos de talento logo descobriram que sua técnica permitia ir além do mero decalque. Mas foram exceções. Eis que, passa o tempo, e pintores hiper-realistas se apresentaram, assim como vieram à tona exposições de fotógrafos com vocação abstratizante. E chegamos ao trabalho de Bebeto Alves aqui estampado. Músico que há décadas impactou o cenário sulino e brasileiro com criações de qualidade e ousadia, com interpretação pessoalíssima, voz rascante, vinda parece que do peito, em melismas sugestivos (que aliás o levariam, tempos depois, a explorar o parentesco da milonga com estilos médio-orientais e ibéricos de canto), Bebeto sobreviveu a um transplante complicado – quer dizer, viu a cara feia do destino bem de perto – e fez questão de falar sobre isso, até mesmo artisticamente, na banda Os Três Plantados, formada por ele mesmo, Jimi Joe e King Jim, companheiros de geração e desse particular barco. E fotógrafo. Uma vocação que se expressa há relativamente pouco tempo em público, a fotografia do Bebeto Alves parece distante de suas canções e dicções. Parece. Mas um artista é isso mesmo, certo? Um sujeito capaz de encarar todas sem perder o tom, abrindo mão do conforto elementar dos que preferem a sombra. Fotos que abrem mão do realismo trivial para, talvez, melhor ver e mostrar cenas, figuras, climas. REDS, eis o nome que o autor deu a este conjunto. Divirta-se com mais este Bebeto Alves. Texto de Luís Augusto Fischer
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