Cresci como guri de apartamento e lembro bem do nítido contraste entre a melancolia da vida seca e reta na urbe, buscando maravilhamento em suas praças acanhadas, com a alegria extática das temporadas na praia ou eventuais fugas pra alguma sanga na subida da Serra gaúcha. Se foram algumas décadas até ver minhas aspirações tomarem forma e fincar pé no mato, entre os vales que margeiam o centro Budista, na encosta da serra gaúcha. Só então passei a ter como referência interna o tempo/espaço/respiração da natureza. E dessa perspectiva hoje parto pra transitar entre as bordas da melancolia e angústia que seguem pairando sobre a experiência urbana como fuligem inerente. A neurose incessante por um controle inexistente e desnecessário. A insanidade do ritmo uniforme, marchado, e sua métrica quadrada similar à geometria previsível de tanto prédio, corredor, esquina, cargo, escritório. A métrica da vida plana peneirada pela tela onipresente que muito explica sobre a visão rasa que marca a ferro e códigos de barra a “moderna” mente média e seu repertório de emoções extremas, imaturas. Os vários moldes do desequilíbrio. Da oportunidade preciosa de atualizar a riqueza além da triste moeda como expressão livre da simplicidade, fica evidente o quanto precisamos rever nossas miras e metas. Lembrar de onde viemos, e não foi de um laboratório, escritório de engenharia nem plano de marketing. Então capturo imagens pra soltar em seguida, quase aleatoriamente, como pequenas provocações ao alcance de quem me rodeia no instante. Acreditando que o contato –mesmo que mínimo- com a criatividade inexaurível do que nos é natural possa reavivar a lembrança da sanidade. Algo como uma homeopatia visual. Pra que –sabe lá- alguns se inspirem, desconfortem, respirem, aspirem radicalmente ampliar seu espaço, tempo e abraço.
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