Ensaios Fotográficos

Luiz Eduardo Achutti: A Rede Ferroviária no Rio Grande do Sul

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Luiz Eduardo Achutti: A Rede Ferroviária no Rio Grande do Sul

A Rede Ferroviária no Rio Grande do Sul, que foi desativada para os trens de passageiros no ano de 1998, trouxera o progresso a diversas localidades do interior.  Quando os apitos dos trens de passageiros silenciaram, necessariamente ocorreu uma significativa mudança nas mentes, no perfil e na economia de diversas cidadezinhas do RS.

 Os espaços e os bancos das estações das cidades do interior do RS, pequenas e médias, abrigavam os sonhos dos viajantes que partiam, eram espaços que configuravam a porta de entrada na cidade para aqueles que chegavam. Junto com os passageiros vinha o jornal Correio do Povo, as cartas, presentes, as trocas de modo geral, de um tempo sem Internet nem celulares. 

Quantos namoros e casamentos se fizeram ou desfizeram tendo como palco as estações férreas? Hoje, muitos destes prédios, se não abandonados, certamente estão decadentes e desfigurados. Porém a memória ainda segue lá, latente, não apenas nos espaços das estações, mas também com os moradores vizinhos, ainda sobreviventes ao tsunami das privatizações dos dois governos Fernando Henrique Cardoso.

Seria muito importante remapear as linhas férreas, fotografar o que restou das estações ou o ridículo no que elas estão hoje travestidas: verdadeiros galinheiros, moradia para mendigos, pombal de aves famintas – as ruínas de uma modernidade equivocada. Também fundamental será entrevistar as pessoas que seguem lá onde estão as estações, não mais à espera de um parente que vai chegar, e sim apenas acompanhados da memória de tempos que partiram silenciando os sinos das estações e o apito dos trens. 

Meu pai, que se criou em Santa Maria, então centro ferroviário do Estado, me ensinou como o apito do trem do final do dia regulava as pessoas, o tempo da cidade, assim como a vibração do solo com o trem que se aproximava agitava as galinhas dos pátios, se antecipando ao apito, boas observadoras da vida cotidiana.

Independentemente da possível volta deste tipo de transporte de pessoas, o resgate e organização da memória da RFFSA/RS é de suma importância histórica, afetiva, arquitetônica e cultural.


































Luiz Eduardo Robinson ACHUTTI é fotógrafo, Antropólogo, prof. Associado IV Instituto de Artes da UFRGS. EX-Prof. Colaborador Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, de 2007 até 2014. Membro de Phanie – Centre de l’ethnologie et de l’Image – Paris

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