Mariano Baptista: Santa Branca

Quando dei uma pausa no dia a dia das redações, fiz como muitos colegas de telejornalismo, procurei a produção independente. Uma desconfiança logo virou certeza; no mercado do audiovisual, apenas alguns poucos podem investir em novos equipamentos e a maioria vive de alugar câmeras, tripés, microfones, etc. E também uma descoberta: em fotos caseiras, me virava melhor com os recursos dos smartphone e aplicativos do que mexendo no equipamento profissional, que rápido abandonei. Não sou fotógrafo e o interesse é mais por enquadramentos e luz.  Hoje são milhões de “fotógrafos de aplicativo”. Melhoramos imagens, compartilhamos, hobby para uns, também um baita negócio para outros. Tem de tudo e para tudo: frases em fotos de autoajuda, receitas, saúde, aquele treino dos marombeiros, casais aventureiros e até registro em família pode dar algum lucro. Não é meu caso. Na maior parte do ano, procuro trabalhar e escrever em casa, no silêncio do campo, e minha rotina virou um tipo de “farm office”. O escritório da fazenda fica no mesmíssimo lugar onde passei infância e adolescência. Virou ponto de produção profissional, e nele sempre aponto a lente do celular. Sem alvo especifico ou propósito, simplesmente interessam detalhes e situações que surgem, às vezes do nada, ou nos melhores horários de luz. Tudo registrado no raio de até 500 metros. Dentro desta área peculiar, a natureza surpreende. Nada distante da civilização, pelo contrário, são apenas 6 km do centro da cidade, e ao mesmo tempo tem cara e jeito de fazenda num fundão de campo.  Bem, vamos ali fazer mais uma foto, porque cada dia tem movimento diferente da bicharada ou vai surgir aquela luz que não sei quando pode voltar tão bonita.     Mariano Lima Baptista (1973) é jornalista (PUC-RS) pós-graduado em cinema-documentário (FGV-Rio). Passou pelas redações da TVE-RS, RBS TV/Poa, TV Globo e Sportv. Atualmente trabalha na produção de audiovisual e como roteirista. Vive a maior parte do ano na Fazenda Santa Branca, em São Borja-RS