Nunca por completo

A fotografia é a linguagem artística através da qual consigo satisfazer minha vontade de estética. Não raramente, relaciono fotografia com filosofia, sociologia e literatura. A cidade é minha principal inspiração, sou fascinado pelas dinâmicas da vida cotidiana que se desenrolam no espaço urbano. A cidade me mobiliza e comove. É múltipla e complexa, não se deixa nunca apreender por completo. A cada passo que dou, percebo ela transmutando-se e, de certa forma, eu também. A cidade, para mim, se revela através de pequenos, singelos e comoventes fragmentos. Para capturar ou apreender esses fragmentos é preciso observar, experienciar, viver, sentir e ser a cidade. É necessário ter imaginação aguçada: ouvir os sons contidos em sua policromia e enxergar as imagens contidas em sua polifonia. É preciso se deixar afetar – emocional-racionalmente – pelos seus fluxos, cursos e discursos.   Sou fascinado pela atmosfera pulsante, maluca, suja, barulhenta, os diversos cheiros e cores e os múltiplos acontecimentos de Porto alegre. Perambulo discretamente por suas ruas, muitas vezes de skate, imprimindo em fotografias minhas percepções e impressões acerca do caos sedutor.  Gosto, em especial, de apreciar e fotografar as coisas e lugares familiares, e extrair o extraordinário do ordinário. Reapresentar a cidade para mim e para os outros. Por exemplo, gosto de dar rosto às ruas, para isso, tenho o hábito de fotografar as placas de seus nomes dentro do contexto em que estão fixadas. Faço minhas fotografias com a câmera do celular, por ser portátil e rapidamente acionável, possibilita que eu faça o tipo de registro do qual gosto: espontâneo, instantâneo e subordinado à intuição.  Douglas Porto – 36 anos, natural de Porto Alegre, residente na zona leste da cidade. Pai da Olívia. Sociólogo, professor e doutorando em Ciências Sociais pela PUCRS. Administrador da página Porto Alegre Street Art, no Instagram.