Olhe para mim2020-08-152020-08-18Matinalhttps://www.matinaljornalismo.com.br/wp-content/uploads/2020/08/tiriba-de-pfrimer-pyrrhura-pfrimeri-pfrimers-parakeet-4780-baixa.jpg200px200px
TIRIBA DE PFRIMER - Pyrrhura pfrimeri
Como será ver as aves assim, bem de perto? Era mais ou menos o que tentava imaginar enquanto ouvia, em pleno isolamento, o ornitólogo Pedro Develey e a jovem Lorena Patrício me contarem de suas experiências marcantes de observação de pássaros. O tangará, um dançarino pequeno e azul, se destacando na mata; a crejoá com sua cor púrpura diante de um grupo de jovens na Bahia; a rolinha do planalto, desencontrada por tantas décadas, redescoberta pelo olhar de um observador.
As imagens deste ensaio de Ester Ramirez, fotógrafa e arquiteta de Maceió – e passarinheira, como Pedro e Lorena –, conseguem um incrível feito: nos tornar, todos, observadores de pássaros, mesmo longe da mata, mesmo dentro de nossas casas. Acompanhando os registros em texto, Ester nos fala um pouco sobre as aves, o local e o momento da foto. Às vezes, é o relato de uma fotógrafa que se esgueira e corre riscos para garantir a imagem ideal. Às vezes, se parece com o de uma bióloga, apresentando uma espécie ameaçada, pedindo por preservação. Em todos eles, é o relato de uma apaixonada pela natureza, pelas aves, pelo momento do encontro.
Em nossa breve conversa, Ester me contou a essência de sua atividade, aquilo que a moveu, desde o início, a registrar mais de 1500 espécies, a viajar mais de 40 expedições em uma década de vida passarinheira ao lado do marido Marcos Holanda, também observador.
“A fotografia era a melhor forma que eu tinha de mostrar para as pessoas a beleza do que eu via em campo, durante as viagens. E não adiantaria de nada mostrar um bicho sombreado, sem cores, sem detalhes. Fui trabalhando para que conseguissem ver tudo: a beleza da pena, o detalhe do olho, o jeito da ave se comportar. Fotos bonitas, e não apenas o registro. Na hora da foto, é a isso que estou dedicada, e coloco todo meu carinho e minha energia para que a ave se posicione, para que a ave olhe para mim.”
Era um pouco o que vinha suspeitando: que a observação merece ser compartilhada.
Lolita Beretta
Essas quatro aves são as mais fotografadas da Costa Rica, onde pude oferecer oficinas para o registro das aves. Estavam na lista de desejos de todos os alunos.
Ester Ramirez é arquiteta e empresária de Alagoas e, desde de 2010, fotógrafa de natureza, especializada em aves. Das 1919 espécies de aves encontradas no Brasil, já registrou quase 1600, além de cerca de 500 outras espécies em viagens ao Peru, Venezuela, Uruguai, Argentina e Costa Rica. Vem ministrando oficinas de fotografia de aves no Brasil e também na Costa Rica. Em 2014, viajando pela Bahia, encantou-se com o Lajedo dos Beija-flores, área frequentada por observadores do mundo todo, porém mal preservada. É lá que deve inaugurar em breve uma escola especializada no registro de aves, agora com a garantia da conservação.