Ensaios Fotográficos

Olhe para mim

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Olhe para mim TIRIBA DE PFRIMER - Pyrrhura pfrimeri

Como será ver as aves assim, bem de perto? Era mais ou menos o que tentava imaginar enquanto ouvia, em pleno isolamento, o ornitólogo Pedro Develey e a jovem Lorena Patrício me contarem de suas experiências marcantes de observação de pássaros. O tangará, um dançarino pequeno e azul, se destacando na mata; a crejoá com sua cor púrpura diante de um grupo de jovens na Bahia; a rolinha do planalto, desencontrada por tantas décadas, redescoberta pelo olhar de um observador.

As imagens deste ensaio de Ester Ramirez, fotógrafa e arquiteta de Maceió – e passarinheira, como Pedro e Lorena –, conseguem um incrível feito: nos tornar, todos, observadores de pássaros, mesmo longe da mata, mesmo dentro de nossas casas. Acompanhando os registros em texto, Ester nos fala um pouco sobre as aves, o local e o momento da foto. Às vezes, é o relato de uma fotógrafa que se esgueira e corre riscos para garantir a imagem ideal. Às vezes, se parece com o de uma bióloga, apresentando uma espécie ameaçada, pedindo por preservação. Em todos eles, é o relato de uma apaixonada pela natureza, pelas aves, pelo momento do encontro.

Em nossa breve conversa, Ester me contou a essência de sua atividade, aquilo que a moveu, desde o início, a registrar mais de 1500 espécies, a viajar mais de 40 expedições em uma década de vida passarinheira ao lado do marido Marcos Holanda, também observador. 

“A fotografia era a melhor forma que eu tinha de mostrar para as pessoas a beleza do que eu via em campo, durante as viagens. E não adiantaria de nada mostrar um bicho sombreado, sem cores, sem detalhes. Fui trabalhando para que conseguissem ver tudo: a beleza da pena, o detalhe do olho, o jeito da ave se comportar. Fotos bonitas, e não apenas o registro. Na hora da foto, é a isso que estou dedicada, e coloco todo meu carinho e minha energia para que a ave se posicione, para que a ave olhe para mim.” 

Era um pouco o que vinha suspeitando: que a observação merece ser compartilhada.

Lolita Beretta


BEIJA-FLOR VERMELHO – Chrysolampis mosquitos Esse belíssimo beija-flor pode ser observado e fotografado facilmente no Lajedo dos Beija-Flores, em Boa Nova, na Bahia, no período de outubro a fevereiro, momento em que migra para a região em busca da abundância de néctar oferecido pelos cactos “cabeça de frade” (Melocactus bahiensis).


CURICA DE CAPUZ MARROM – Pyrilia haematotis
TUCANO DE BICO AMARELO – Ramphastos sulfuratus
QUETZAL RESPLANDESCENTE – Pharomachrus mocinno
BEIJA-FLOR DE CABEÇA BRANCA – Microchera albocoronata

Essas quatro aves são as mais fotografadas da Costa Rica, onde pude oferecer oficinas para o registro das aves. Estavam na lista de desejos de todos os alunos.


CHOCA DE GARGANTA PRETA – Clytoctantes atrogularis 
Essa é uma ave ainda pouco conhecida da ornitologia. A imagem foi feita em uma viagem a Rondônia que foi como estar num parque de diversões: muita energia, alegria, surpresas, inspiração e muita transpiração. Sempre algo especial para registrar.

CHOQUINHA DE ALAGOAS – Myrmotherula Snowi
Espécie em perigo crítico de extinção. Seu habitat está cada vez se restringindo mais em Alagoas e não sei mais por quanto tempo conseguirá sobreviver se a degradação que a região vem sofrendo continuar. Uma ave tão bela não merecia desaparecer de nossas matas.


CREJOÁ – Cotinga maculata
Passei 5 anos tentando registrar essa espécie endêmica do Brasil e ameaçada de extinção. Até que recebi a ligação de um grande amigo informando que ela estava aparecendo em um açaí para comer seus frutos. Arrumamos as malas, organizamos tudo e partimos para uma viagem de aproximadamente 1000Km. Foi uma loucura, mas valeu a pena.


GUÁCHARO – Steatornis caripensis
Na montagem desta expedição ao Monte Roraima, esta espécie estranha e rara foi a primeira que escolhemos para estudar e, sem dúvida nenhuma, era a espécie mais desejada, para nós, no topo do Monte. Ficamos emocionados quando percebemos que alguns casais já estavam no local. E aí começou a real aventura. Tive que ficar pendurada sobre o abismo, Marcos, meu marido, me segurando pelas pernas, e eu com a lente 600mm na mão. Em um momento de sorte, um dos indivíduos do casal que eu fotografava, olhou para cima, coisa rara. Sonho realizado.


RABO BRANCO DE MARGARETTE – Phaethornis margarettae
Subespécie “camargoi”, encontrada em Alagoas e Pernambuco e com pouquíssimos registros. 


RABO DE PALHA DE BICO LARANJA – Phaethon lepturus
Esse extraordinário voador deu um show de acrobacias me permitindo fazer vários registros. Para fazer a imagem, também eu fazia malabarismos, à beira de um penhasco, sem nenhuma proteção à frente.

ROLINHA DO PLANALTO – Columbina cyanopis
Uma das mais importantes redescobertas do mundo ornitológico, depois de 75 anos sem registro de ocorrência, está agora em um projeto de conservação da SAVE. Fizemos questão de vê-la com a intimidade e com o tempo que merece. Agradeço a SAVE, na figura do amigo Pedro Develey, por mais esse grande movimento de preservação dos ambientes de nossas aves brasileiras.


SAÍRA PINTOR – Tangara faustuosa 
Passamos uma semana inteira indo todos os dias ao local onde um casal dessa saíra fez o ninho para acompanhar o desenvolver dos dois filhotinhos.


SANÃ CINZA – Porzana spiloptera
Uma das sanãs mais difíceis de fotografar no limpo e com o fundo desfocado.

TANGARÁ – Chiroxiphia caudata
Era um dia de chuva e enquanto eu esperava a chuva passar, encontrei esse tangará simplesmente pousado próximo a mim, esperando a mesma coisa que eu para voltar a treinar sua dança.


TIRIBA DE PFRIMER – Pyrrhura pfrimeri
Foto tirada no Parque Estadual da Terra Ronca, em Goiás. O parque é um refúgio para essa ave, ameaçada de extinção devido ao grande desmatamento de seu habitat. A época não era propícia para avistá-la, mas pudemos, depois de uma intensa caminhada, encontrar um lindo bando que pousou muito próximo a nós. 


TOROM DO NORDESTE – Hylopezus ochroleucus
Por trás desta foto: o guia todo encolhido no chão, Marcos, meu marido, bem quietinho, e eu me esgueirando pelo chão para colocá-lo bem perto de mim e com um fundo desfocado.


Ester Ramirez é arquiteta e empresária de Alagoas e, desde de 2010, fotógrafa de natureza, especializada em aves. Das 1919 espécies de aves encontradas no Brasil, já registrou quase 1600, além de cerca de 500 outras espécies em viagens ao Peru, Venezuela, Uruguai, Argentina e Costa Rica. Vem ministrando oficinas de fotografia de aves no Brasil e também na Costa Rica. Em 2014, viajando pela Bahia, encantou-se com o Lajedo dos Beija-flores, área frequentada por observadores do mundo todo, porém mal preservada. É lá que deve inaugurar em breve uma escola especializada no registro de aves, agora com a garantia da conservação.

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