Os semitons de uma Porto Alegre
Texto: Renato Rosa
O experiente fotógrafo Fernando Zago (Sant’Ana do Livramento, RS, 1953), como todos os santanenses, é um “doble chapa”, denominação assim atribuída por causa da situação geográfica geminada com a cidade uruguaia de Rivera. Residente em Porto Alegre, cidade que escolheu para fixar-se, estudar e constituir família, frequentou o Ateliê Livre da Prefeitura Municipal e cursou Arquitetura. Desde 1979 dedica-se à fotografia como meio profissional e expressão artística, realizando exposições individuais e participando de importantes mostras coletivas. Nos últimos anos cumpriu roteiro de visitas a diversos ateliês obtendo registros de atividades que compõem a suíte “Vida de Artista”, já exibida e em segunda edição.
Para sua mais recente série de trabalhos, Fernando Zago escolheu uma cidade de Porto Alegre vazia como se fosse composta por sequências tediosas e melancólicas de um filme de Michelangelo Antonioni, ou um súbito clarão de Hiroshima exibindo cenas desvestidas da figura humana. Porém na verdade seu olhar flagra uma cidade em pleno despertar e em suas primeiras luzes matinais. O fato dessa suíte ser em preto e branco acentua determinadas nuances, trazendo uma inesperada dramaticidade ao espaço urbano. Aqui somente o ritmo das edificações que contrastam arquitetonicamente entre si é o tom impositivo geral, mas sem jamais esquecer o caudaloso rio da infância de muitos, o Guaíba. Fernando Zago “escreve” um diário de uma manhã preguiçosa em rigor acentuadamente disfarçado de “monocromático”, em que o branco é mesclado a grises, pratas e cinzas, resultando em uma precisa e original cidade de Porto Alegre. É a poética de um olhar pessoal, um canto amoroso de silêncios.
