Ensaios Fotográficos

Travessias

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Travessias
Por vezes, a travessia foi feita. Em cada viagem, tanto de ida quanto de volta, a vontade de que a distância entre as duas cidades fosse maior e o tempo mais longo. Não havia pressa, mas uma urgência em olhar com calma a paisagem líquida. E a paisagem nunca era a mesma. Uma ave, um bando de aves, outras embarcações, o movimento das boias de sinalização. As mesmas águas apresentando cores diferentes, variando entre tons acinzentados, marrons ou azuis. Certamente, havia muito para ser visto, outras paisagens para além daquela percorrida pela embarcação. Na impossibilidade de outras rotas restava olhar com curiosidade, muitas vezes com surpresa, o trajeto, o mesmo trajeto, e o que ele apresentava de inédito ou o que já tinha sido visto, mas que, em cada nova travessia, oferecia a possibilidade de ser revisto. As margens. À margem. O movimento das águas, os sons do ambiente. O barulho do motor, sempre na mesma aceleração, impondo sua sonoridade. Em cada margem, destacadas na paisagem, chaminé e chaminés, ativas e inativa. Entre elas, sobre as águas, no balanço das ondas, uma profusão de fragmentos e detritos. A capacidade de cuidar foi perdida? Pequenas ondas avançam e batem no casco. Ainda assim, com determinação, o barco avança e produz novas e agitadas ondas que deslizam por um tempo, até se diluírem totalmente.  Sem emudecer, o som do motor muda. O ancoradouro está próximo, a travessia está perto do fim e, como ondas, pessoas desembarcam enquanto outras aguardam o momento de embarcar.  Filetes de luz. Fragmentos de luz. Constelações diurnas. No início era o caos. Ainda é! Em cada travessia ser também atravessado. Não existe porto seguro, mas, às vezes, é necessário desembarcar no porto de origem. Sem estranhamento compreender, na miragem daquelas águas, que tudo é fluxo e refluxo. “Sob um céu azul / Em uma nova onda / Em um mundo novo / Hoje” – tradução de trecho da música Aspects, de Paul Weller.  Vander Bras – Fotógrafo. Sintonia boa com crianças, cães, gatos e plantas. Profundamente interessado na espécie Macaca Nigra, e no fato de que um membro dessa espécie foi capaz de fazer uma das melhores selfies da história. (Belo Horizonte – MG)

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