Entrevista | Parêntese

Entrevista com Jeferson Tenório, professor e escritor

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Entrevista com Jeferson Tenório, professor e escritor
Leitura, racismo e o coração dos jovens“Não chame a atenção no meio dos brancos” Creio que bastará ler as respostas dadas pelo entrevistado de hoje, Jeferson Tenório, não só para ter uma boa ideia de sua personalidade e suas ideias, mas para ver nele uma admirável figura.  Sujeito sereno, de grande profundidade, publicou dois romances que estão dando o que falar e pensar, O beijo na parede (2013, Editora Sulina) e Estela sem Deus (2019, Editora Zouk). E foi ao ler um post dele no Facebook, dando conta da recepção de seus livros por parte de alunos de escola pública, que me ocorreu enviar as perguntas.  Nos conhecemos já há alguns anos, desde os corredores e salas de aula do Instituto de Letras da UFRGS. Sei de seu valor também pela leitura – o romance O beijo na parede (2013) é das coisas mais impactantes em matéria de romance de formação no Brasil contemporâneo; mas aquela postagem me surpreendeu ainda por cima dessa admiração, porque falava de recados que leitores jovens de seus livros enviavam a ele, dando conta da força que tivera a leitura. Que mais quer um escritor? A conversa aconteceu por email: enviei as perguntas em dezembro, pegando o professor no meio da pressão de final de ano, e o Jeferson mandou as respostas em janeiro. E era isso: agora é só conferir.  Foto de Priscila Pasko Parêntese: Conta um pouco da tua trajetória pessoal, desde a tua família de origem até o presente, em linhas gerais. Jeferson Tenório: Nasci em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro. Minha mãe gaúcha conheceu meu pai, que é de Alagoas. Mais tarde vim a saber que sou sobrinho-neto do Tenório Cavalcante, político influente e que fundou a cidade de Caxias no Rio. Moramos no Rio até meus 13 anos, depois viemos para o Sul. Esta transição entre Rio e Porto Alegre marcou bastante minha vida e, de certa forma, a minha literatura. Em minhas lembranças guardo um Rio de Janeiro luminoso, alegre e vivaz, diferente da cinzenta Porto Alegre. Chegamos aqui no inverno. Tínhamos poucas roupas quentes. As chuvas e as baixas temperaturas talvez tenham mudado a minha percepção sobre as coisas. Desde então Porto Alegre sempre me pareceu triste. Lembro de um poema do Borges dizendo que luz dos Pampas é filosófica ao entardecer. Acho que ele tem razão. Talvez essa luminosidade melancólica tenha afetado de alguma forma meu modo de escrever. Na adolescência fui uma figura estranha, porque eu detestava as festas e rolezinhos pelos shoppings, minha maior diversão era poder caminhar pelas ruas sozinho. Lembro também que ao chegarmos aqui no sul peregrinamos por diversos bairros porque não tínhamos onde morar. As brigas familiares eram constantes então nos mudávamos muitas vezes. Moramos no bairro Bom Jesus, no Partenon, na vila São José, no Morro da Cruz,  Vila Safira, Vila Augusta em Viamão, fomos para Alvorada, no Jardim Porto Alegre, Vila Americana, Vila São Pedro, por último voltamos para Porto Alegre, no bairro Chácara das Pedras. Foram momentos […]

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