Entrevista | Parêntese

Do Madagascar ao Cabo Verde: a trajetória da linguista Gildaris Pandim

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Do Madagascar ao Cabo Verde: a trajetória da linguista Gildaris Pandim
Por Luis Augusto Fischer Conheci a Gildaris Pandim em Paris, quando ela me deu aulas de francês para eu fazer menos feio no contato com os nativos. Figura gentil, inteligente e bem-humorada, a professora Gildaris em algum momento me contou de uma experiência na Mongólia. Mongólia! Me dei conta, comigo mesmo, que Mongólia era algo impensável para mim, concretamente. Nunca pensei em ir lá, nem mesmo em conhecer alguém que fizesse trabalho voluntário por lá.  Uns tempos depois, graças à face boa das redes sociais, soube que estava vivendo em Cabo Verde, esse pequeno país de umas poucas ilhas, com língua oficial portuguesa, que se relaciona com nossa história por essas tranças complicadas da escravidão, do tráfico de pessoas pelo Atlântico. Fiquei curioso e indaguei se ela toparia contar algo de sua trajetória. Aqui está o resultado, que nos aproxima da vida cotidiana daquele país. Linguista, formada pela Unesp de São José do Rio Preto (SP), com uma trajetória de grande originalidade – estudou e trabalhou em Lyon e Paris, na França, antes de ir para Cabo Verde –, a Gildaris oferece uma sólida notícia do mundo cabo-verdiano.  A entrevista foi feita por escrito, via email. Há alguns trechos explicados entre colchetes, quando o editor imaginou ser necessário esclarecer. Gildaris Pandim Parêntese: Queria mesmo começar fazendo a pergunta dramática: Cabo Verde existe mesmo?  Gildaris Pandim: Existe, e como existe! P: Qual a tua história até chegar aí?  GP: Moro há quatro anos na cidade da Praia, a capital do arquipélago de Cabo Verde. Antes daqui, morei dez anos na França, inicialmente em Lyon, onde participei de um programa de assistente de língua do Ministério de Educação francês. Depois fui para a sempre atraente Paris, onde comecei, alguns anos depois de morando e trabalhando ali, a fazer o doutorado em linguística na Université Sorbonne Nouvelle – Paris III. Costumo dizer que o meu coração já pertence no mínimo a três terras: o meu interior paulista, com “r” retroflexo [o r de caipira] sim, senhor!, a Cidade-Luz (apesar de também ter uma boa queda por Lyon) e estes pontinhos de terra firme espalhados no meio do Atlântico, onde vivo atualmente.  Acredito que o Brasil – onde vivi até os meus 22 anos – forneceu as bases para alçar voo, ideia que sempre me instigou desde pequena. Já viajava nos livros quando adolescente: adorava ler mitologia grega, mas também histórias em quadrinhos dos gauleses Asterix e Obelix. Tive sempre interesse por repertório variado, quer na literatura, quer na música, mesmo tendo seguido inicialmente percursos clássicos, típicos das “boas famílias interioranas” (vai aqui uma boa dose de ironia). Podia tranquilamente esperar o meu pai terminar a leitura do jornal para poder finalmente me deliciar com as ácidas charges, ou chorar perdidamente lendo e relendo Camilo Castelo Branco (em especial Amor de perdição, do que me lembro). Pode parecer utópico, mas me orgulho em dizer que toda a minha educação foi pública – e não foi tarefa fácil passar no vestibular da Unesp, mesmo o […]

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