Entrevista

Francisco Dalcol – O tempo complexo do Margs

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Francisco Dalcol – O tempo complexo do Margs Francisco Dalcol (Crédito: Raul Holtz / Divulgação)

Em entrevista à Parêntese, o diretor-curador Francisco Dalcol fala sobre as origens e a formação da personalidade do MARGS, das peculiaridades de seu nascimento à atuação do museu em 2021.

Criado de forma peculiar em um momento de ebulição cultural não só em caráter regional, mas nacional, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul constitui-se no mais importante museu do Estado graças a uma história que une respeito às tradições e um olhar especial para o presente. Em cartaz desde setembro, a “1ª Exposição de Arte Brasileira Contemporânea: 1955/2021”, uma remontagem da mostra de estreia do MARGS, feita em 1955, ajuda a compreender o valor da instituição como guardiã da memória, promotora de reflexão e propulsora do fazer artístico regional e nacional para a sociedade gaúcha.

Muito desse espírito tem a ver com a circunstância em que o MARGS foi criado: o museu foi fundado em 27 de julho de 1954, por um decreto do governo do Estado, sem nenhuma obra em seu acervo e sem sede oficial. Ou seja, o MARGS nasceu como ideia. Sob o comando de seu primeiro gestor, o respeitado pintor e pesquisador Ado Malagoli (1906-1994), a instituição adotou a função de agente público atualizador do circuito artístico local como mote. 

Aprovado recentemente por um edital promovido pelo Consulado-Geral dos EUA em Porto Alegre, o projeto de digitalização do acervo documental do MARGS é mais um passo dessa trajetória: 5 mil livros, 6,5 mil catálogos, documentação sobre 1,8 mil artistas, 57 mil páginas sobre as atividades do museu e 65 páginas de jornal, que hoje existem apenas em estado físico, serão guardadas também em meio digital. Isso já acontece com as mais de 5 mil obras de arte do acervo do MARGS, em uma coleção que abrange linguagens como pintura, escultura, gravura, cerâmica, desenho, arte têxtil, fotografia, instalação, performance, arte digital e design, entre outras.

Nesta conversa, o diretor-curador Francisco Dalcol fala sobre as origens e a formação da personalidade do MARGS, levando em conta as peculiaridades de seu nascimento e os primeiros passos da instituição no cenário gaúcho, além dos ecos dessa primeira exposição, de 1955, na atuação do museu em 2021. Se à época os desafios tinham a ver com a inserção de Porto Alegre em um curso contemporâneo da história da arte, a atualidade impõe temas como meios digitais, representatividade, resgate histórico e como temas relevantes. Confira parte da conversa com Francisco Dalcol, diretor-curador do MARGS, abaixo.

Parêntese – O que a 1ª Exposição de Arte Brasileira Contemporânea, em cartaz no MARGS, nos apresenta sobre a história dessa instituição e por que foi escolhido este momento para remontá-la?

FRANCISCO DALCOL: São vários motivos. Quando cheguei ao MARGS, eu tinha uma série de ideias, desejos, intenções, interesses. Mesmo antes de entrar, tinha um interesse sobre essa primeira exposição do MARGS. Em primeiro momento um interesse como pesquisador, tanto em história da arte como em estudos expositivos, história das exposições, e depois também o interesse de me aprofundar na história do museu e da constituição de seu acervo, neste momento inicial do MARGS. Nesse sentido, alguns programas expositivos foram implementados no MARGS, um deles intitulado História do MARGS Como História Das Exposições. Com esse programa, queremos trabalhar a memória da instituição de uma maneira inovadora, abordando a história do museu, as obras, a constituição do acervo, e mesmo a trajetória e a produção de artistas que expuseram no MARGS com projetos que revisitam, resgatam, examinam determinados episódios, eventos e mesmo exposições emblemáticas do passado do MARGS, de modo a entender a inserção e a recepção públicas. 

A primeira foi Pichações, do Frantz, exposição que ele apresentou no início dos anos 1980 e que remontamos numa sala aqui no MARGS. A ideia foi reencenar, recriar a exposição. E o projeto que daria sequência a esse programa era o resgate dessa exposição inaugural, que eu chamo de exposição de estreia – porque a exposição de inauguração do MARGS aconteceu de fato em 1957, no Theatro São Pedro, então chamamos de exposição de estréia, porque foi a primeira atividade pública do MARGS. Mas veio a pandemia, o fechamento do museu, a reforma, e com a reabertura foi possível colocar de pé o projeto. Acabaram sendo dois anos de pesquisa documental para essa exposição. A ideia era descobrir quais obras foram apresentadas nessa exposição e vieram a entrar no acervo do museu – chegamos em um número de 19 obras que estão no nosso acervo até hoje. Por esses vários fatores, a exposição veio a público: um projeto dentro de um programa expositivo implementado dentro do museu e essa vontade de me aprofundar na compreensão e no conhecimento da própria história do museu e de seu acervo. 

[Continua...]

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