Entrevista

Henry Chmelnitsky: “Sem empatia, vai ser difícil sair dessa”

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Henry Chmelnitsky: “Sem empatia, vai ser difícil sair dessa” Henry Chmelnitsky está à frente do SINDHA desde 2014 Foto: SINDHA/Divulgação

Presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região, Chmelnitsky foi defensor do isolamento social enquanto parte da categoria pressionava pela reabertura indiscriminada

Por Luís Augusto Fischer*

Não é muito comum encontrar, na mídia, líderes empresariais defendendo posições democráticas com foco no mundo dos “de baixo”. Não quer dizer que os empresários sejam insensíveis, mas sim que em geral suas aparições públicas se dedicam prioritariamente a outras dimensões da vida social, política e econômica. Agora, já durante a pandemia, quando a crise mostrou sua cara feia em toda a extensão, essa raridade se confirmou. Um pouco naquela linha da frase brasileira bem conhecida: “Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. 

Mas as posições de nosso entrevistado são uma exceção. Escrevendo ou dando entrevistas, Henry Chmelnitsky a cada tanto chama atenção para a realidade dos empregados, a parte mais frágil da equação social. Meu apreço pelas suas posições públicas se associou a uma coincidência histórica já antiga, quando fui seu colega no Colégio Israelita, lá por 1984, e busquei uma entrevista, feita por zoom, em meados de julho, conversa que o leitor tem a sua disposição agora.

Sublinhando: a conversa foi feita em meados de julho, uns 45 dias atrás, num contexto diferente do atual em aspectos importantes, em especial porque naquele momento o prefeito de Porto Alegre e o governador gaúcho bancavam uma posição de prestigiar o isolamento social, com paralisação de grande parte das atividades econômicas, contra a posição do presidente do país, um negacionista, o que lhes carreou forte oposição das entidades empresariais. Foi então que a posição pública de nosso entrevistado se salientou.

De todo modo, o sentido geral do pensamento de nosso entrevistado permanece vivo e válido. Dirigindo o Sindicato da Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região – SINDHA, desde 2014, ele tem-se mostrado uma figura que vale a pena ouvir. 

*A edição da entrevista foi feita por Cláudia Laitano.

Parêntese – Conta um pouco da tua formação, pra gente te conhecer mais.

Henry Chmelnitsky – Sou formado em Administração, com especialização em Marketing. Sou um frustrado nesse aspecto porque não sinto que meu aprendizado foi muito bom. Não sei se pelo momento que eu vivia ou se pela minha capacidade de absorção na época, mas foi um período muito difícil. Mais tarde, consegui retomar a conexão com a academia coordenando uma parceria entre a Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e o Insper [Instituto de Ensino e Pesquisa, de São Paulo]. Enquanto estive ligado à CONIB, formamos quatro turmas no Insper em um curso de liderança que se encerrava em Israel. Mais de 120 jovens tiveram essa oportunidade de formação pagando apenas 20% do custo do curso. Nesse período pude unir o lado intelectual com a vida prática, do dia a dia do trabalho. Foi algo que me deu muito prazer, dando vazão a minha vivência comunitária, vamos dizer assim, não apenas judaica. A educação sempre foi o meu ponto focal. Quando assumi o Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (SINDHA), em 2014, uma das primeiras iniciativas foi desenvolver um programa ligado ao curso de Engenharia de Produção da UFRGS, com apoio do Ministério Público, já que o curso falava muito a respeito de cidadania. No fundo, para ser um bom profissional, é preciso antes ser um bom cidadão. 

P – Tua vida profissional sempre esteve ligada à área de hotéis e restaurantes?

HC – Cheguei a ser gerente regional da Grow Jogos e Brinquedos, que na época era uma empresa diferenciada. Saí de lá para correr um dos maiores riscos da minha vida, que foi assumir uma franquia do McDonald’s. Em 1987, fui fazer o treinamento em São Paulo para abrir a primeira franquia do Brasil, que seria inaugurada no início de 1989. Lá fomos nós, eu e minha esposa, que também largou o trabalho dela, e nosso filho de dois anos. Fomos para São Paulo sabendo que eu podia ser dispensado a qualquer momento. Não tinha garantia nenhuma. Graças a Deus, superamos as etapas que tínhamos que superar. Conversando contigo, vejo que nada foi programado. A Grow era uma empresa para aquela época extremamente profissionalizada. Tudo era em cima de números, e ali eu tive um aprendizado muito grande. Depois, quando fui fazer o meu treinamento no McDonald’s, houve uma continuidade dessa visão de alto profissionalismo, de que as coisas devem ser pensadas ao máximo antes de executadas.

P – Já havia ali uma preocupação tua com a cidadania?

HC – Sim. Quando vejo as discussões de hoje sobre racismo, por exemplo, lembro que fui treinado pelo McDonald’s para montar uma equipe que procurasse respeitar a diversidade do país. Então parti desse conceito básico para montar minha equipe. Estamos falando em 1988. Foi um grande aprendizado. A gente se doou muito, a família se doou muito. Foram anos de muito trabalho, muito mesmo. Até hoje o ketchup corre dentro das minhas veias (risos).

P – Então com o McDonald’s tu entras na vida associativa de sindicato? E a partir daí?

HC – Isso. No final dos anos 1990, fui convidado para participar do sindicato, mas participava como observador, alguém que contribuía nas negociações sindicais em época de dissídio, mas nunca fui muito ligado. Mas tudo tem a ver com aprendizado. Na mesma época, quando o Raul Pont era prefeito (1997/2001), fui convidado a trabalhar com a equipe que estava planejando a revitalização do Centro de Porto Alegre, e também lá havia cabeças brilhantes. Quem tocava pelo lado da Prefeitura era a arquiteta Leonora Ulrich, uma cabeça extraordinária. Nós fizemos uma dupla de muito respeito. Eu representando a iniciativa privada, ela o setor público. Tanto é que a Otávio Rocha foi refeita, a Praça XV também. Aprendi muito sobre política com aquela experiência. Lidar com o PT foi uma grande aprendizagem. O meu mentor era o João Mota, que me ensinou a me relacionar, a ter paciência, a acreditar… Passei um tempo na Federasul, que era ligada a esses projetos, e depois me envolvi com a atuação na comunidade judaica. Também dentro de uma visão que eu trouxe do fundador do McDonald’s, segundo a qual tu tens que devolver para a sociedade aquilo que a sociedade te dá. Estive acho que 12 anos vinculado à Federação Israelita e depois acabei na Confederação Israelita do Brasil, onde meu presidente era o Claudio Lottenberg, com quem aprendi muito também. Sempre fui puxado para cima.

P – Bons interlocutores, caras que te desafiavam e tal…

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