Entrevista

Horácio Dottori – Olhar estrelas

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Horácio Dottori – Olhar estrelas Nascido na Argentina, Dottori fez carreira na UFRGS, onde é professor emérito (Foto: Gustavo Diehl/UFRGS)
Até uma geração atrás era comum que os alunos da escola brasileira conhecessem um soneto de Olavo Bilac, parnasiano de temperamento romântico, que começa assim:  “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, que para ouvi-las muita vez desperto e abro as janelas, pálido de espanto… “Pálido de espanto” entrou até para o repertório das imagens da língua culta brasileira, mas a força da imagem deste “ouvir estrelas” era maior ainda: essa estrofe começou a circular tanto para falar mal dos sonhadores, que ficavam ouvindo estrelas, quanto para, na posição oposta, defender os que se comunicam com as distantes estrelas. Agora Bilac nem mais é lido, o que é uma pena, porque seu domínio da língua é muito interessante, ainda que sua visão das coisas seja hoje uma velharia pior que, sei lá, a glutonice do Dom João Charuto. Mas nada disso importa muito para acompanhar o entusiasmado cientista que agora vai se apresentar aqui. Horácio Dottori foi entrevistado por escrito e conta de sua carreira como astrônomo, que não ouve estrelas mas convive com elas desde muitas décadas, numa trajetória que dará gosto de conhecer. Argentino de nascimento, cosmopolita de alma, brasileiro de vida, Horácio é um entusiasta da cultura, que a gente encontrava em teatro, concerto, show, enfim naquela profusão de vida cultural ativa que, prazendo aos deuses, vamos viver de novo daqui a uns meses. Parêntese – Horácio, como anda a vida de aposentado, depois de uma trajetória de pesquisa e ensino de tantos anos? Tu descobriste gostos e desgostos novos? Deu pra botar a leitura em dia e pra ver ou rever todos os filmes? Tu tens autores e diretores prediletos? Horácio Dottori – A vida de aposentado, que começou em 22 de março de 2013, anda bem. Gostaria de ter ficado na docência até os 75 anos, mas na época a compulsória era aos 70 anos. No próprio dia do aniversário recebi a famosa carta da reitoria: “Grato em informá-lo que…”. Mas, pouco tempo depois, tive uma oferta que me ajudou a aguentar o trancaço: me convidaram para ser diretor interino do observatório astronômico SOAR, no Chile, por um período de 6 a 12 meses. Este projeto opera um telescópio de 4 m., muito moderno, e uma meia dúzia de instrumentos, com um investimento total aproximado de uns 50-70 milhões de dólares. O Brasil é parceiro das universidades de North Carolina e Michigan State, do NOAO (National Optical Astronomical Observatory) dos Estados Unidos. O Chile participa, por ser o país anfitrião do observatório. Esta oportunidade me permitiu esquecer um pouco o evento “aposentadoria”, e na volta comecei a atuar como professor aposentado convidado na UFRGS. Ao ritmo dos meus 78 anos, continuo com minhas pesquisas. Acabei de publicar um trabalho na revista Astronomical Journal, com colaboradores internacionais. Gostos e desgostos novos, nos quais se engalfinhar, sempre há. Estou trabalhando o conceito de tempo que transita um período de intensa reflexão na Física e na Filosofia da Ciência. Recentemente comecei um curso da […]

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