Ian Alexander – De Outro Lugar
O entrevistado Ian Alexander, professor de Literatura Inglesa na UFRGS, lembra dos tempos de Austrália e conta como chegou ao Brasil para viver a bela experiência da paternidade.
Por Luís Augusto Fischer (entrevista feita por escrito, em dezembro de 2020)
Olhar para o já conhecido, olhar para o desconhecido. Pensar o desconhecido a partir dos conceitos nascidos naquilo que é conhecido. Mudar a perspectiva sobre o conhecido pelo contato com o desconhecido.
Essas disjunções vão entrar em circuito em um minuto, quando o leitor começar a ler a entrevista com Ian Alexander, professor de inglês no Instituto de Letras da UFRGS. Ele é australiano e vive aqui há uns vinte anos, mais de um terço de sua vida. Isso quer dizer que ele vem de longe, com um repertório cultural e emocional muito diverso do nosso – mas também quer dizer que ele já conhece nosso modo de ser o suficiente para não apenas saber o que se passa, mas igualmente para medir distâncias entre os dois mundos.
São dois países imensos e não centrais; são duas línguas que quase nada têm a ver (mas são ambas ocidentais, claro), em duas formações históricas muito distintas, da religião dominante na colonização aos processos de formação da população atual.
Creio que a leitura vai mostrar como o Ian, além de ser uma grande figura humana, ajuda a pensar diferente – e melhor. Tenho aprendido muito com ele, com sua estratégia comparativa, com seu gosto pela dúvida.
Conto apenas uma para ilustrar: quando nos cruzamos na faculdade, ele ainda aluno, eu costumava repetir alguns mestres, como Antonio Candido, e falar da influência europeia na cultura brasileira, e dizia isso sem nenhuma dificuldade. Pois foi numa dessas vezes que o Ian levantou a mão para observar: “influência francesa”. E era mesmo. Ele, nativo de uma das partes do antigo império inglês, avaliava a coisa de um ângulo inesperado, e totalmente certo.
Preste atenção, então.
[Continua...]