Entrevista | José Falero

Quilombo: um espaço de resistência na literatura

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Quilombo: um espaço de resistência na literatura

Antologia lançada na Argentina dá visibilidade à diversidade da produção de escritoras e escritores negros brasileiros

Hoje, 28 de novembro, às 19h, ocorre o sarau de lançamento da antologia Quilombo: cartografía de la autoria negra brasileña (publicação argentina). A live contará com a presença da maioria dos autores e será transmitida pelo Facebook, Instagram e YouTube da Tinta Limón Ediciones.

Organizada pela professora de literatura brasileira da Universidade de Buenos Aires, Lucía Tennina, a obra busca sublinhar a multiplicidade e a diversidade da produção de escritoras e escritores negros nascidos no Brasil no século XX. Procura abarcar uma amplitude geracional com figuras emblemáticas já falecidas, como Carolina Maria de Jesus e Solano Trindade, e jovens escritores contemporâneos formados nos slams e saraus das cidades brasileiras. Contempla, ainda, autores de todas as regiões, do norte ao sul do país, com a maioria de mulheres, buscando inverter a proporção androcêntrica que tradicionalmente acontece em coletâneas.

Os poemas e contos do livro vêm acompanhados de dois textos críticos que abordam a questão racial na literatura brasileira contemporânea. O primeiro, de autoria da professora da Universidade de Brasília Regina Dalcastagnè, Sobre ausencias y posibilidades; e o segundo, do professor da Universidade de Campinas Mário Augusto Medeiros da Silva, La fuerza de la literatura negra y de la literatura marginal periférica brasileñas. Além disso, dez dos autores e autoras são apresentados num conjunto de entrevistas realizadas pelas pesquisadoras do Grupo de Estudos em Literatura Contemporânea da Universidade de Brasília, Paula Dutra, Lúcia Tormin Mollo e Graziele Frederico. 

Segundo Tennina, a antologia se traduz em um esforço de preenchimento do vazio que é a quase inexistência de traduções de autoras e autores negros na Argentina, o que contrasta com suas descobertas em anos de pesquisas sobre literatura periférica realizadas junto aos saraus e slams no Brasil.

Dada a importância e o significado dessa iniciativa, especialmente neste momento de retrocesso e desrespeito às diversidades pelo qual passamos, não apenas no Brasil em particular, mas no mundo de modo geral, fomos bater um papo com Cidinha da Silva, Ronald Augusto e Gabriel Sanpêra, três dos autores que marcam presença na antologia, e também com a própria organizadora da coletânea, Lucía Tennina. Confere aí.

Parêntese – Logo na introdução de Quilombo: Cartografía de la autoría negra brasileña, Lucía Tennina responde à seguinte pergunta: “Por que fazer uma antologia de autoria ‘negra’ brasileira e não uma antologia simplesmente?” Gostaria que vocês falassem um pouco sobre isso, e portanto transfiro a mesma pergunta a vocês. 

Ronald Augusto – Por que fazer uma antologia de autoria negra brasileira e não uma antologia simplesmente? Porque na verdade, não obstante as tentativas eruditas de convencimento, não existe uma “literatura brasileira”, o que temos mesmo é uma literatura branca brasileira, desde sempre defendida pela noção de fachada da universalidade ou de uma vaga brasilidade apaziguadora de todos os conflitos. De certo modo, quando surge a reivindicação de uma literatura negra o que também é trazido à luz é o engodo de que a literatura não tem cor. Assim, quando o Silvio Almeida argumenta, por exemplo, que o racismo estrutural inventa o branco e o negro, isso significa que é preciso também que o escritor branco se reconheça como tal, em vista da desejada superação dos horrores produzidos pelo racismo naturalizado. A crença em uma literatura brasileira contente de sua formação apontada para a universalidade, para uma espécie de ser brasileiro pretensamente pós-racial, é uma das faces da negação do racismo no âmbito da criação literária. Em termos práticos, uma antologia de poetas e escritores negros reforça a necessidade de romper o silêncio cínico do sistema literário relativamente a essa produção.

Ronald Augusto é poeta, letrista e crítico de poesia. Formado em Filosofia pela UFRGS. Autor de, entre outros, Confissões Aplicadas (2004), Cair de Costas (2012), Decupagens Assim (2012), Empresto do Visitante (2013), Nem raro nem claro (2015) e À Ipásia que o espera (2016). Dá expediente no blog POESIA-PAU e escreve quinzenalmente no jornal Sul21. (Foto: Santiago Fontoura)

Cidinha da Silva – A presença da intelectualidade negra em antologias importantes, principalmente internacionais, costuma acontecer de duas formas: a primeira, em publicações específicas dedicadas à autoria negra; a segunda acontece quando a organização da antologia adota princípios de diversidade e, nesta situação, define desde a origem que contará com sujeitos de vários grupos, pertencimentos, características, incluindo a autoria negra. As formas possíveis de participação em antologias que não tivessem um dos dois formatos mencionados anteriormente talvez passassem por alguns raros nomes de autoras e autores negros que alcançam destaque no sistema literário e logram participar de espaços bem restritos. Antologias de autoria negra serão necessárias enquanto o sistema literário não potencializar essas autoras e autores e não amplificar suas vozes, enquanto o cânone que legitima os trabalhos literários e sua respectiva autoria também não se tornar mais plural. Enquanto essas mudanças são processadas, as antologias específicas dão a conhecer essas vozes.

Cidinha da Silva (MG) é escritora e editora na Kuanza Produções. Publicou 17 livros distribuídos pelos gêneros crônica, conto, ensaio, dramaturgia e infantil/juvenil. Um Exu em Nova York recebeu o Prêmio da Biblioteca Nacional (contos, 2019). Escreveu também Exuzilhar, #Parem de nos matar!, Os nove pentes d’África (PNLD Literário 2020),  Oh… margem! Reinventa os rios! e Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil, livro de referência na temática. Tem publicações em alemão, catalão, espanhol, francês, inglês e italiano. É curadora e âncora do programa-web Almanaque Exuzilhar, do qual há 13 edições disponíveis no Youtube. (Foto: Pierre Gentil)

Gabriel Sanpêra – Penso que está voltando uma movimentação que adquiriu novas roupagens nos últimos anos, que é a tentativa de apagar, fazer esquecer. Diversos corpos de escrita sejam eles publicados ou não passam por mecanismos de apagamento e fazer esquecer, quando suas obras entram em contato com as linhas de arrebentação. Seja o mercado literário, leitores, críticas e espaços para falar e movimentar suas criações. Então acredito que uma antologia negra vem como algo para fazer lembrar. Um objeto importante na documentação de corpos que estão vivos em movimentação frente a um Estado que quer produzir nossas desalegrias enquanto povo historicamente sobrecarregado.

Gabriel é escritor, tem 23 anos, mora na Zona Leste de São Paulo no bairro da Penha. Publicou seu primeiro livro pela editora Urutau, que se chama Fora da Cafua. No ano que vem, publicará A Ossada de um Moleque. Preto, LGBT e do Candomblé, trás suas questões e as dos moradores de sua cidade no interior do Rio de Janeiro, Barra Mansa para suas produções. Nos últimos meses sua produção tem vindo de encontro com questões de sua família, onde mergulha nas estórias de sua bisavó e por meio de um álbum de fotografias antigas, cria poéticas das descobertas de sua estória. Em Fora da Cafua, trouxe moradores de seu bairro personificados como orixás, o que lhe rendeu premiações e transformação das poéticas em um curta que será apresentado no ano que vem. (Foto: Acervo pessoal)

P – Parece haver, por parte de uma parcela do público leitor, uma certa expectativa de que autoras e autores negros limitem-se a abordar questões étnico-raciais em suas produções. Vocês concordam que exista tal expectativa? Se sim, qual é a natureza dela, na visão de vocês? O que a explica? E como vocês costumam lidar com essa expectativa?

RA – Não concordo com essa expectativa. Mas vejamos algumas coisas. A produção literária dos escritores negros reunidos ao abrigo do conceito de literatura negra, produção que também é conhecida como literatura de autoria negra, afro-descendente, afro-brasileira e negro-brasileira, nas últimas décadas tem sido objeto de larga fruição e análise tanto na área acadêmica, quanto na dinâmica do sistema literário em sentido mundano. Ainda que as conquistas devam ser festejadas, escritores, leitores e pesquisadores envolvidos com essa produção sabem que o esforço para a ampliação da diversidade do cânone e do mercado literários – um dos pressupostos dessa literatura – revela-se como um trabalho muito árduo.

Minha intervenção nessa discussão procura se constituir também em um movimento na direção de prestar o devido respeito estético-crítico à produção desses escritores e poetas negros, porém entendendo que a variedade dessa produção deve ser abordada como manifestação de extração necessariamente literária. Abordagens desse tipo, aliás, não têm merecido um investimento de análise mais forte, uma vez que aspectos extra-literários em alguma medida têm sido mais prestigiados pela recepção contemporânea. A razão para esse tipo de recepção se explica em parte porque o sistema literário é a representação especular, embora com suas singularidades, de uma série de determinações sociais, raciais e econômicas abrigadas sob o arco ideológico. Não resta dúvida de que a literatura tem relação com o pano de fundo social e histórico, porém ela não é simples emanação do contexto, nem serve de mero sucedâneo a aspectos identitários ou de classe.

Contra tal expectativa defendo o surgimento de outras vozes poéticas contemporâneas negras de modo a redefinir ou alargar o conceito de literatura negra e até mesmo fazê-lo vacilar. Porque na medida em que mais prestigiado e respeitado se torna o conceito, mais justificados são os gestos de eleição e exclusão articulados às tentativas de dar solução explicativa e classificatória à diversidade de vieses estéticos que começam a surgir aqui e acolá.

Minha crítica objetiva demonstrar que o conceito – que sustenta essas expectativas meio convencionais – não é senão uma espécie de escada ou de ferramenta cuja utilidade é provisória. Tem alguma serventia para as condições atuais, não há dúvida. Contudo, os poemas e as novas criações do presente vão impor aos teóricos e pesquisadores a necessidade de pensar em outros óculos de análise na medida em que seja imprescindível mirar o quadro que avança sobre eles.

CS – Sim, Falero, eu concordo, existe essa expectativa limitante, de natureza racista e colonial, que quer circunscrever a agência negra, quer domesticá-la em espaços controlados de pensamento e criação. Quanto à forma de lidar com isso, depende da destreza de meus oponentes, se tiverem algum refinamento discursivo, eu jogo Angola, gingo e desfiro rasteiras e cabeçadas elegantes para liquidar o jogo logo, porque me falta paciência e tenho assuntos mais relevantes a tratar. Se forem por demais estúpidos, não desperdiço meu repertório angoleiro, também respondo grosseiramente. Em qualquer dos casos dou porrada, é a única linguagem que essa gente entende (e merece), deixo a cargo de quem tem mais tempo, paciência e espírito magnânimo, a tarefa de “educar a branquitude”.

GS – Vejo que existe sim, uma expectativa para que este corpo preto no espaço traga sua visão sobre dores vividas e a experienciação diária do racismo. Porém, até mesmo o mercado traz estes corpos aos espaços para falar e “botar pra fora” quando querem engajar por meio de memórias de sofrimento.

Nós, enquanto comunidade, produzimos muito e com qualidade. E estarmos em espaços com outros discursos mostra que estamos em movimento. Uma escritora pode trazer seus poemas de amor, falar sobre geografia, clima. Estes discursos, claro, partem de um corpo preto e isso está presente na forma como essa estória será contada. Mas apagar ou não dar espaço a nosso olhar sobre outras questões nos desumaniza também.

Acredito ainda que trazer nossa voz à tona apenas quando o assunto é sobre questões étnico-raciais nos personaliza apenas como os únicos responsáveis por movimentar essa roleta, que é o local de “serviço” que nos entregam na maioria dos espaços. O serviço de educar, trazer a informação a uma comunidade que sempre teve o privilégio da informação e meios para buscá-la mas foi educada a ignorar, fazer esquecer.

P – Por que publicar na Argentina uma coletânea de escritores negros, muitos deles inviabilizados no mercado literário brasileiro?

Lucía Tennina – Bom, a ideia é explicada um pouco na introdução [do livro], mas acho que não precisamente focada no campo de literatura brasileira na Argentina. O fato é que o conjunto de traduções que circulam e os nomes dos autores e das autoras que são conhecidos aqui na Argentina parecem deixar claro que no Brasil, onde a metade da população é negra, não tem um só escritor ou escritora negros. E por mais que existam traduções do Machado, do Lima Barreto, inclusive, mais contemporânea, a Ana Paula Maia, a imaginação que se tem sobre o perfil desses escritores é brancocêntrica. E isto é outra coisa, mas fundamentalmente masculina. Por exemplo, a única coleção de uma editora argentina focada exclusivamente na literatura brasileira não tem nenhum autor ou autora negro. Isso é um alarme que me levou a organizar essa antologia. Que tem a ver, claro, com minhas pesquisas – eu cheguei nessa antologia a partir da minha aprendizagem com as pesquisas que começaram com as produções das periferias, primeiro de São Paulo, depois de Brasília, e de outras regiões. Isso foi me levando a conhecer muitos autores e autoras negras, e eu percebia cada vez mais o vazio que eu te contei. Eu já realizei uma antologia que foi muito potente, chamada Saraus: Movimiento/Poesia/Periferia/São Paulo, editada também pela Tinta Limón, e eu percebia, a partir dessa antologia – que foi muito importante dentro da área dos estudos de literatura brasileira inclusive dentro dos leitores interessados pela literatura brasileira, porque foi uma intervenção mesmo dentro do cânone –, então, eu percebo quanto as antologias são potentes nesse sentido, de reconfigurar o cânone. Nesse caso, a literatura brasileira.

Lucía Tennina é professora de Literatura Brasileira na Facultad de Filosofía y Letras da Universidade de Buenos Aires. É também pesquisadora do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Tecnológicas (CONICET). É formada em Letras (UBA), mestre em Antropologia Social (UNSAM), doutora em Letras (UBA) e pós-doutora em Estudos Culturais (UFRJ). É pesquisadora do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea (UnB) e do Programa Avançado em Cultura Contemporânea (UFRJ). É autora de Cuidado com os poetas! Literatura e periferia na cidade de São Paulo (Zouk, 2017); Saraus: Movimiento/Poesía/Periferia/São Paulo (Tinta Limón, 2014); Polifonias marginais (Aeroplano, 2016), junto com Érica Peçanha, Mário Medeiro e Ingrid Hapke; Literatura e periferias (Zouk, 2019), junto com Regina Dalcastagnè; entre outros títulos. É também tradutora literária do português para o espanhol e coeditora de Mandacaru Editorial. (Foto: Clarisa Chervin)

P – Como se deu a seleção das autoras e dos autores?

LT – A seleção dos autores e das autoras se deu num processo muito longo e também incompleto, porque, e eu especifico na introdução, essa antologia parte de saber que não, que muitos autores e muitas autoras não estão [incluídas e incluídos]. Então parte dessa sapiência. Mas também se propõe como uma porta para conhecer essas produções e para se interessar por aquelas que poderiam fazer parte também. E o processo de seleção foi totalmente dialogado entre colegas da academia, escritores e escritoras que eu conheço e respeito, os próprios escritores da antologia também propuseram alguns nomes, e também a partir dos conhecimentos que eu já tenho. A seleção dos autores foi focada no interesse de não centrar a escolha dos autores e autoras no eixo Rio-São Paulo. É por isso que o nome da antologia é Cartografia, porque o interesse da antologia é abranger muitas regiões do Brasil, de Rondônia até o Sul. Isso também foi um critério de escolha dos autores e das autoras.

P – Por que o título “Quilombo”?

LT – O título “Quilombo” foi uma ideia que eu tive, eu pensei nesse conjunto de autores e autoras como uma organização de pessoas em função de resistir dentro do campo [literário]. E também tentando ir contra o racismo estrutural que nos atravessa, porque aqui a palavra “quilombo”, no espanhol rio-platense, é usada num sentido muito pejorativo, de desordem, de bagunça. E esse uso está carregado de racismo, e silencia a história da resistência do povo negro na nossa América. Então também a ideia é começar a repensar toda essa carga semântica racista que a gente utiliza sem perceber, que está encarnada na nossa língua. “Atenção, leitores, em que sentido a gente usa a palavra ‘quilombo’ aqui na Argentina?”

P – Tu explica na introdução que foi questionada por fazer uma antologia de autoria negra e não simplesmente uma antologia. Fale um pouco sobre isso.

LT – Sim, constantemente eu sou questionada com as minhas pesquisas, com relação a literatura das periferias também. Tem um bullying muito grande, inclusive dentro da academia. É um argumento muito comum, que não é feito para as antologias que incluem só escritores brancos. Mas eu acredito que o que esse tipo de questionamento faz é um apagamento do racismo, o fato de nomear e distinguir, visualizar, dar valor para essas produções é uma forma de posicionar o quanto a palavra “literatura” não é sempre uma boa palavra. Tem muita violência, silenciamento e apagamento por trás.

A seguir, dois poemas que integram a antologia.

Hay gente con hambre (Solano Trindade)

Tren sucio de Leopoldina

corriendo corriendo

parece decir

hay gente con hambre

hay gente con hambre

hay gente con hambre

Piiiii

estación de Caxias

de nuevo el decir

de nuevo a correr

hay gente con hambre

hay gente con hambre

hay gente con hambre

Vigário Geral

Lucas

Cordovil

Brás de Pina

Penha Circular

Estación da Penha

Olaria

Ramos

Bom Sucesso

Carlos Chagas

Triagem, Mauá

tren sucio de Leopoldina

corriendo corriendo

parece decir

hay gente con hambre

hay gente con hambre

hay gente con hambre

Tantas caras tristes

queriendo llegar

hacia algún destino

hacia algún lugar

Tren sucio de Leopoldina

corriendo corriendo

parece decir

hay gente con hambre

hay gente con hambre

hay gente con hambre

Solo en las estaciones

cuando va parando

lentamente comienza a decir

si hay gente con hambre

dales de comer

si hay gente con hambre

dales de comer

si hay gente con hambre

dales de comer

Pero el freno del aire

todo autoritario

manda callar al tren

Ssshhhhhhhhhh

Cuarto de desechos (Carolina Maria de Jesus)

Cuando me infiltré en la literatura

Soñaba con la aventura

Mi alma estaba llena de hianto 4

Yo no preveía llanto.

Al publicar Cuarto de desechos 5

Concretizaba así mi propósito.

Qué vida. Qué alegría.

Y ahora. Casa de albañilería.

Otro libro que va a circular

Las tristezas se van a duplicar.

Los que piden que vaya a auxiliar

A sus metas poder lograr

Pienso: debería publicar…

—Quarto de desechos.

Al principio vino la admiración

mi nombre circuló por la Nación.

Surgió una escritora favelada.

Se llama: Carolina Maria de Jesus.

Y las obras que ella saca a la luz

Dejó a la humanidad abismada

Al comienzo tuve confusión.

Parece que había una obturación

En un alto paladin.

Me solicitaban.

Me lisonjeaban.

Como a un querubín.

Después comenzaron a envidiar.

Decían: vos, tenés que dar

tus bienes, a un cobijo

Los que así hablaban

No pensaban

En mis hijos.

Las damas de la alta sociedad.

Decían: praticá la caridad.

Donando a los pobres agasajos.

Pero el dinero de la alta sociedad

No se destina a la caridad

Es para los campos, los barajos

Y así, me fui desilusionando

Mi ideal retrocediendo

Como un cuerpo envejeciendo.

Me fui arrugando, arrugando…

Pétalos de rosa, marchitando, marchitando

Y… ¡estoy muriendo!

En el campo silente y frío

He de reposar un día…

No llevo ninguna ilusión

Porque la escritora favelada

Fue rosa despetalada.

Cuántas espinas en mi corazón.

Dicen que soy ambiciosa

Que no soy caritativa.

Me incluyeron entre los usureros

Por qué no critican a los industriales

Que nos tratan como animales?

—Los obreros…

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