Filosofia na vida real

Até que a razão os separe. Cena 7: Mary Wollstonecraft

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Até que a razão os separe. Cena 7: Mary Wollstonecraft O íncubo saindo de duas mulheres dormindo (1793). Henry Fuseli. Fonte: Wikimedia Commons.
Ladies and gentlemen, chegamos em um momento decisivo da série “Até que a razão os separe”. Na filosofia do casamento, os reflexos do Iluminismo marcam uma ruptura, um antes e um depois. Em paralelo, na linha de tempo das convulsões políticas do Ocidente, existe um antes e um depois da Revolução Francesa. Até aí nenhuma novidade. Afinal de contas, não é todo dia que se pode aplaudir a decapitação do monarca de plantão, resguardados na arena da razão pública. Guilhotinas à parte, a queda do Ancien Régime injetou um dinamismo inaudito no ímpeto reformista da filosofia moral e política. A transição entre os séculos XVIII e XIX é um momento propício para sacar do bolso o termômetro revolucionário. Qual é o alcance do reformismo moral e político do Iluminismo? Até onde vai a disposição para propor mudanças no status quo das relações civis? Junto com a Queda da Bastilha, era possível prever o desmoronamento da configuração aristotélico-tomista para o casamento?  Já vimos Mary Astell projetar a queda do Patriarcalismo político também no espaço da vida privada. Agora é a vez de Mary Wollstonecraft (1759–1798) interpelar a filosofia moral e política de sua época – em especial Edmund Burke, Jean-Jacques Rousseau e Richard Price – e iniciar o redesenho profundo da instituição política do casamento.  O ponto de partida de Wollstonecraft é radical, no melhor sentido da palavra. Não há moralidade, pública ou privada, não há justiça social, exceto com a garantia de autonomia para o sexo feminino. O que exige uma reformulação das relações entre homens e mulheres no âmbito familiar, seja no vínculo de parentalidade, seja no laço matrimonial. E demanda, com igual força, a ampliação das oportunidades de educação e trabalho para as mulheres. Para que as mães e as esposas possam cumprir adequadamente as suas funções no arranjo social, deve ser possível emancipá-las, intelectual e materialmente. Para as mulheres, deveria igualmente ser possível buscar a autonomia fora das funções de mãe e esposa. Mesmo que este passo ainda estivesse um pouco além do horizonte das reivindicações do protofeminismo do final do século XVIII, ele está prenunciado no argumento central de Wollstonecraft em Reivindicação dos direitos da mulher, um de seus documentos fundadores, publicado em 1792.   A pergunta central da crítica emancipatória de Wollstonecraft, que a situa em cheio no seu momento histórico, talvez pudesse ser formulada da seguinte maneira: que tal incluir as mulheres na Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen? Esta mesmíssima questão estava na ordem do dia da França pós-revolução, como atestam dois outros textos do período: Sur l’admission des femmes au droit de cité (1790), do Marquês de Condorcet, e Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne (1791), de Olympe de Gouges.  Vale rememorar um trecho do preâmbulo da Declaração de Olympe de Gouges:  As mães, as filhas, as irmãs, representantes da nação, reivindicam constituir-se em Assembleia Nacional. Considerando que a  ignorância, a omissão ou o desprezo pelos direitos da mulher são as únicas causas das desgraças públicas e […]

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