Folhetim

A parada – Capítulo 2

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A parada – Capítulo 2
Mandolate? São três por dez, isso. São três por dez e tá certinho assim, obrigada. Bom dia pra ti! E é assim, assim como eu ia dizendo, que as coisas passam e mesmo assim ficam. Lembro agora de umas coisas ligeiras, que se deram em dias diferentes e que não sei por que me lembrei. Acho que uma história acaba puxando a outra, deve ser por isso, acontece assim com a gente, não acontece? Lembro que era uma mulher daquelas apressadas, mas era de idade já, mais que eu até. Devia ter quase uns setenta, e não tava muito bem das pernas, andava de bengala de um jeito estabanado, atrapalhada. E eu, como sempre, aqui parada e olhando. E olhando e olhando, aí vi que ela veio vindo de lá pra cá, consegue ver também? De lá, ó. Pois ela quis aproveitar pra vir mais ligeiro que o ônibus e se equilibrou como pode no cordão da calçada, só que não pode. E sabe como são esses ônibus, né? Só vendo, olha lá um, olha lá, olha lá. Vem que vem! Eles vêm que vêm numa velocidade que não dá tempo de parar assim de supetão. Essa mulher, naquele estado de saúde e com aquela pressa de se antecipar do ônibus, deu uma escorregada de repente e caiu do meio-fio pisando de leve na rua.  Ai, ai, ai. O motorista enfiou a mão na buzina e tirou pro lado. E eu me torci toda daqui, fiz o corpo se virar junto daquela coitada pra escapar de ser atropelada. E fui indo assim pro lado, sabe? E fui indo e indo e indo. É assim, a gente vira e mexe se entorta toda pra ajudar os outros, nem que seja só ficando aqui parada. Pois é assim, eu fico com meus pés-de-moleque, minhas rapaduras aqui olhando a vida, mas eu vivo, eu enxergo. Sei que a gente escapa por pouco, bem por pouco. E escapa rindo sem jeito depois, como fez aquela coitada naquele dia lá. Toda sem jeito a danada se escapou assim, assim. Foi por um triz, por um fio, assim como eu me escapei. Sim, porque eu também me escapei de ver a criatura atropelada, esmagada ou sei lá o quê. Te digo que a cabeça da gente torce pra não ver a tragédia, não ver os outros se estatelando, se estropiando. Porque um acidente desses a cabeça nunca mais esquece, né? Igualzinho o homem que trepou aqui na frente da gente pra trabalhar nos fios de luz. Virgem Maria! Aquilo tá aqui vivo na minha memória até hoje. Vou contar? Vou contar. Pois era fumaça, deus nosso!, era fumaça e os olhos arregalados do companheiro na frente dele. A gente toda aqui debaixo só olhando aquele homem indo pro saco. Nem posso me lembrar, virgem nossa!, um horror. Sim, aqui na nossa frente. Lembra do homem aquele que morreu nos fios? Viu, tá aí ele que não me deixa mentir. Eles pegaram aquelas escadas e se foram […]

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