Folhetim

A parada – Capítulo 5

Change Size Text
A parada – Capítulo 5
Até parece que eu falei de rio sem saber que Porto Alegre tem esse rio, mas é claro que sei. Acha que tô doida? E sei que a diferença do rio em que molhei os pés no passado da minha vida é mais um riachinho perto do que é o Guaíba. Mas também sei que toda essa água ali pra trás do muro é cada vez menos pra mim, é cada vez mais pra quem tem dinheiro, pra essa gente que pode passar o tempo gastando e gastando e gastando.  Eu não posso, vou ter o que pra gastar? E não é muito do meu gosto essas coisas novas que andam fazendo, parece que não fui convidada pra fazer parte da cidade. Pois eu vi que agora tão querendo armar alguma coisa nova bem aqui no Centro, vão arrumar tudo, dizem que vão construir uns prédios grandes. Se for assim, já dá pra saber quem vai morar, né? E eu é que não vou ser. É pra ti? É pra mim? Vai pensando, vai, que esses homens da política fazem coisa pra gente. Fazem nada! É pra quem? Pois é, quando é tudo novinho e bonitinho e piriri e pororó, pode contar, lá vem construção. Sei que não são todos os políticos que vendem tudo, eu sei, mas esses que estão aí a gente sabe que sim. Esse Guaíba todo, enorme que só ele, tem gente das grandes que se interessa, pessoal do dinheiro que bota a mão e ganha mais e mais. Meu riozinho era coisa pouca, aguinha correndo em pedra pequena, barulhinho de correnteza leve. O Guaíba é grande demais, até o sol cabe dentro. Aquele sol amarelo, que vem vindo e vindo e vindo. Começa a ficar laranja e desce num vermelhão, né? É bonito demais de ver, quando se pode ver. Eu daqui vejo muito mais a cor do céu, que vai trocando e mudando aos poucos quando faz uns dias bonitos. Uma vista que só vendo, tu bem sabe. Não tem como ser pra mim ver um céu e um sol que cai no rio da janela da própria casa, até parece! Riozão que daqui a gente não vê, eu já disse. Ou vê quase nada, vê uma que outra vez aquele tamanhão todo de água que parece um mar. Tá escondido ali pra trás, não tá? Mas quando abrirem tudo com dinheiro, vai dar pra ver sem que seja pra pisar. Eu queria pisar na frente, aproveitar pra caminhar, claro que queria. Quem não ia querer. Mas se fizerem tudo que andam dizendo, fico longe. Pois a gente se envergonha de quem chega e se adona, que é esse pessoal esnobe, de nariz levantado, um mais metido que o outro. Vai dividir espaço com eles pra ver o que acontece, te olham com nojo. O perfume deles te manda embora! Eles vão chegando e tomando conta e expulsando quem eles querem expulsar. É assim por quase tudo que eles mexem nessa cidade. Tinha que […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

RELACIONADAS
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.