Capítulo 3: Algo de muito errado
Sem retorno. Sem retorno. Um futuro sem possibilidade de acessar o passado é pura angústia. Sem retorno, e eu me lembro de minha mãe, de meu irmão, de minha casa. A nossa Sankofa foi feita para avançar no tempo, não para voltar. Sem retorno, e não há qualquer dúvida de que estou no futuro.
O vidro que me cerca é também um monitor, palavras surgem nele ao toque pelo lado externo: minha identificação, N. 453, e alguns padrões de medida; minhas funções vitais? Não é uma projeção, é algo como cristal líquido.
O que tem no futuro? Uma prisão tecnológica. Estou em um outro setor, o local é imenso, e embora eu ocupe um pequeno espaço – ainda contida por vidros, ainda em cativeiro – há grandes placas de vidro retangulares na ampla sala, elas se alinham em colunas perpendiculares ao chão. Umas exibem informações de diferentes tipos, outras não têm nada, parecem apenas vidro transparente.
Certas placas parecem mostrar o mundo fora do laboratório. Algo como imagens de segurança com excelente definição mostram um mundo cinza, não reconheço nada. Exceto pelas árvores, nada lembra o campus, nem nenhuma outra região de Porto Alegre. Identifico uma grande porção de água; seria o Guaíba?
[Continua...]