Capítulo 7: Qualquer lugar
Aos poucos e sem que eu percebesse, esperar foi se corporificando à minha rotina. A preocupação de me distanciar demais do Hospital Dom Vicente Scherer e não chegar a tempo, caso fosse chamada para o transplante, somada aos riscos das aglomerações, reduzia e muito os cenários disponíveis fora do circuito percorrido quase que diariamente.
Na hemodiálise, a convivência com meus colegas de sala, suas expectativas e experiências de vida, me levava a olhar para minhas próprias questões. De alguma forma, cada um de nós havia deixado algo importante em suspenso, na esperança da brevidade, para retomar ao término da travessia. O fato, porém, é que ninguém ali sabia quando isso aconteceria.
– Eu tô há 6 anos na hemodiálise, 3 deles na fila. – contava o DJ manauara que viera para Porto Alegre, já que não eram feitos transplantes na terra do Boi-Bumbá. – Sinto falta das minhas coisas, da minha família, da minha casa.
[Continua...]