Capítulo 8: Prisioneira em dois tempos
Desço o morro junto com as visitas. Elas parecem mais leves, e eu sinto o meu corpo incapaz de dar conta do peso que carrego. Passei horas sentada no meio da poeira tentando encontrar um sentido para o que aconteceu. Perdi tudo? Ainda há o que fazer? Aquele homem encontrou a Sankofa e se deslocou no tempo com Marcela? Este seria o pior dos cenários. Por que enviaram ele? Querem Marcela, eu sei: precisam se apropriar das pesquisas imunológicas no futuro e querem acabar com nossa capacidade de sobreviver nesse tempo a que chamamos de presente.
Já liguei várias vezes para minha amiga, mas ela recusa minhas ligações; mensagens, nem visualiza. O aplicativo indica que ela está offline há horas. Isso me obriga a ir à casa dela.
A mãe de Marcela me recebe no portão com o João no colo e ar despreocupado; a filha não está, mas acredita que chegará mais tarde. A minha angústia só aumenta. Então procuro recordar o que sei sobre Adriel – fico indignada em associar aquele homem a um nome, tenho palavrões bem mais adequados para ele e seu povo –; Marcela comentou comigo onde o namorado trabalha e isso pode me ajudar na busca por ela. Preciso me deslocar para a zona norte.
Chego no laboratório pouco antes do anoitecer. É um conjunto de prédios em um terreno grande cercado por altos muros com câmeras de vigilância e guaridas. Nenhum ponto no qual possa arriscar uma entrada clandestina. Logo na entrada principal sou recebida com muita desconfiança, o segurança me pede um documento e acaba com meu desejo de ocultar minha identidade. Talvez eu devesse pensar em outras meios de resolver essa situação, mas não estou me sentindo com plena capacidade de raciocínio. Tudo fica ainda pior quando vou direto ao ponto e pergunto por Adriel. O segurança, de poucas palavras, me pede para sentar e aguardar. Permaneço tensa, não acredito que vá ser fácil. Dois policiais entram no saguão, passam pelo segurança e andam direto em minha direção. Eles pedem meu RG e dizem que precisam me levar para maiores averiguações. Estou sendo presa? Eu não posso ser presa!
“Não vou! Não estou fazendo nada de mais.”
[Continua...]