Folhetim

Uma questão de prioridades – Capítulo 5

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Uma questão de prioridades – Capítulo 5
Quando o Nelson avistou o Fúlvio Sillas e simultaneamente ouviu, em altos brados – Nelsinho, seu menino!!! Quanto tempo, Xiru!!! Chega mais –, sentiu que não conseguiria mesmo pegar o escritório da empresa de petróleo aberto. Que ia ser abduzido por outra conversa num dia atípico. Por vezes a gente quer viver um período mais pacato, sem muita badalação e agito, não assumir novos compromissos, manter um bom nível de controle sobre a nossa rotina, e a vida trata de nos oferecer o contrário, refletiu o Nelson. Uma sucessão de encontros imprevistos no mesmo dia, diante de novas urgências que tinham aparecido uns minutos ou horas atrás. E a questão de prioridades ia para o ralo uma vez mais.  E o Fúlvio começou sem trégua:  – Nelson! Nelson! Nelson! Fala, meu bruxo! O que é que tu anda fazendo da vida?!  Nelson esboçou um sorriso amarelo. Aquele tipo de sorriso que só movimenta os lábios e não abre a boca. Uma leve contração para ir pensando de que modo vai lidar com a situação e com a pergunta. Nelson sempre pensava: “pouco me importa como os outros escolhem viver suas vidas, tipo de música que escutam, modo como se vestem, então por que raios sempre que tu encontra uma amizade de um outro contexto, contexto este LÁ!!!, distante, longínquo, a pessoa quer saciar curiosidades e interagir como se o tempo tivesse parado naquela época, quando, o plano…, o plano era combinar uma ida ao cinema com a galera, fazer gritaria, rir alto, rir alto de passagens do filme que não tem graça nenhuma”.  “Não seja tão rabugento com o amigo de longa data, Nelson”. Uma voz interna soprou isto na consciência de Nelson. Respirou fundo e foi. – Salve, grande Fúlvio!!! Tô por aí, dando umas aulas, tocando o barco, e encontrando uns amigos de fé pra tomar uma gelada – enquanto puxava uma cadeira e se convidava para sentar-se, aceitando que deixaria para outro dia a ida ao Centro Histórico. Amanhã, sem falta… talvez.   Fúlvio era um cara que tinha uma habilidade em criar bordões, frases curtas que a turma de amigos acabava adotando. Não chegava a ser um frasista, um literato, mas tinha lá o seu encanto. Era filho de um marceneiro e, assim, aprendeu muito cedo a rotina de trabalhar duro e o valor do dinheiro. Buscava uma transcendência cultural enquanto ajudava o pai na marcenaria e estudava na mesma escola pública estadual que o Nelson. Uma frase clássica dele era, quando no meio da noite, quando todo mundo ainda estava naquele torpor bebum de tanta cerva, Fúlvio lascava:  – Pessoal, tenho que ir, preciso me recolher porque amanhã não posso perder o Campo e Lavoura. Vai ter uma receita de pé de moleque imperdível, e não posso ficar sem saber, também, a cotação da saca de soja. Saquinho pequeninhooooo!  E a galera dava aquela gaitada! Riam alto com o improvável. Campo e Lavoura era um programa de TV que passava muito cedo e abordava o universo […]

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