Histórias renais

Segunda Vez

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Segunda Vez

Um dos tantos começos possíveis para essa história aconteceu quando perdi a função renal pela segunda vez. No dia 14 de agosto, acordei com febre, falta de ar, dor no corpo e muito, muito cansaço. Suspeitando que o teste de Covid-19, realizado naquela mesma semana, havia dado falso negativo, voltei ao Hospital Pereira Filho a fim de repetir o teste, consultar na emergência e fazer uma série de outros exames prescritos pela nefrologista. Eu não tinha dúvida de que, dessa vez, o resultado seria positivo. Não só os sintomas apresentados me levavam a essa conclusão, mas também o fato de que meu pai entrara recentemente para as estatísticas de infectados, e mesmo isolado na casa dos fundos, convivemos de perto por algum tempo sem saber que o coronavírus havia chegado em nossa casa.

Depois da consulta e da sequência de exames – PCR, sangue e tomografia do tórax —, a médica da emergência veio com a resposta: uma pequena lesão no pulmão compatível com a Covid e muitas outras doenças. Não dava para afirmar nada. Teríamos que aguardar o resultado das amostras dos desagradáveis cotonetes para a confirmação. Não era a melhor notícia do dia, mas era um caminho esperado. A surpresa daquela tarde, porém, ficou por conta do rim, que após 31 anos e um mês transplantado, não filtrava suficientemente os resíduos do sangue e estava prestes a encerrar suas atividades.

Ao ouvir aquilo, baixei a cabeça, arrasada. Só pensava em voltar para casa. Não podia permanecer ali. Aquele era um assunto extremamente delicado para mim, cheio de pontas soltas e questões mal resolvidas. Aos 7 anos de idade, aprendi que precisava cuidar muito bem dos meus rins e, aos 10, quando os originais de fábrica falharam e recebi o rim de minha mãe, tudo isso se intensificou ainda mais. Perdi muita coisa ao longo do processo, inclusive a visão, mas a vida em mim compensava todas essas perdas. Eu sabia que as coisas não iam tão bem assim, dois anos antes o rim começara a declinar. Contudo, os 31 anos eram um tempo muito acima da média para um transplante renal, tanto que cheguei a acreditar que o rim doado por minha mãe viveria em mim para sempre, esquecendo que o transplante, assim como a hemodiálise e a diálise, é apenas um tratamento, pois não existe cura para a insuficiência renal.

[Continua...]

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Ao ouvir aquilo, baixei a cabeça, arrasada. Só pensava em voltar para casa. Não podia permanecer ali. Aquele era um assunto extremamente delicado para mim, cheio de pontas soltas e questões mal resolvidas. Aos 7 anos de idade, aprendi que precisava cuidar muito bem dos meus rins e, aos 10, quando os originais de fábrica falharam e recebi o rim de minha mãe, tudo isso se intensificou ainda mais. Perdi muita coisa ao longo do processo, inclusive a visão, mas a vida em mim compensava todas essas perdas. Eu sabia que as coisas não iam tão bem assim, dois anos antes o rim começara a declinar. Contudo, os 31 anos eram um tempo muito acima da média para um transplante renal, tanto que cheguei a acreditar que o rim doado por minha mãe viveria em mim para sempre, esquecendo que o transplante, assim como a hemodiálise e a diálise, é apenas um tratamento, pois não existe cura para a insuficiência renal.

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