Parêntese | Resenha

Jandiro Koch: Enquanto a morte não vem: De Sousa Junior

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Jandiro Koch: Enquanto a morte não vem: De Sousa Junior
Augusto Gonçalves de Souza Junior (1896-1945) tem desses sobrenomes tipo Silva, que se escondem e embaralham nas buscas na internet. Não foi possível localizar muita coisa, o que me levou para os arquivos de jornais e revistas digitalizados. Filho de Eufêmia Pelizzoni, italiana, e de Augusto Gonçalves de Souza, provavelmente de Porto Alegre. Família de cinco filhos. Assinava “De Sousa Junior”, com “s”. Assim consta nas capas de Enquanto a morte não vem (1939), Um clarão rasgou o céu (1940) e Castelo de fantasmas (1945). Esse último reuniu Juca Ratão, hidrófobo e Castelo de fantasmas, publicados anteriormente em separado. Quando saquei Enquanto a morte não vem da estante de autores gaúchos – tenho uma seção desses por ler -, pareceu calhar para o momento da Covid-19. Passadas algumas páginas, me apeguei. Daquela leitura que só vai. Parei lá pelas tantas tomado pela curiosidade pelo autor, coisa que costumo, quase sempre, deixar para o final. Em um site aparece enquadrado na literatura noir. Não duvido que os outros volumes tenham um quê de mistério e de policialesco, mas não o que tenho em mãos. Flexibilizando bastante, noir (preto em francês), no sentido de sombrio… até cabe. Mas, acaso seja por aí, prefiro caliginoso, adjetivo que De Souza Junior empregava.  Trata-se de um romance urbano, que tem Porto Alegre como cenário. Em forma de memórias, o taciturno Júlio, personagem central, traça uma psicologia para o seu cotidiano. Venturas, poucas, e desventuras, muitas. A relação com as mulheres é mote, especialmente a vida conjugal. Embora não trate das tradicionais questões sociais, pensando que a instituição familiar é do que mais nos marca, problematizar sobre o que acontece no lar não é nenhuma frivolidade, nem desprezível, como insinuam muitos que insistem em separar os mundos privado e público. Os textos de De Sousa Junior foram classificados como ficção, o que não me impediu de ver muito dele. Sempre revolvo a biografia dos autores, coisa minha. Na década de 1920, casou com Suzartina de Mello, conhecida como Tatina (há divergências sobre esse nome), que era viúva de um tal Horácio, que se suicidou, parece que com plateia. Ela estava com 23 anos, tinha três filhos dessa união de trágico final: Gladys, Herson e Newton. A relação com o escritor, com quem teve uma filha chamada Maria Augusta, se tornou outro pequeno escândalo para a città.   Em Enquanto a morte não vem, o provincianismo porto-alegrense, talvez pelos olhares sobre a própria família, foi exponenciado. Outros muitos pontos, que remetem à vida pessoal, podem ser evocados. A constante queixa de Júlio por ter sido colocado, à revelia, como tesoureiro de uma sociedade, espécie de clube da época, não será incômodo com a ocupação de De Sousa Junior, nessa função, na Associação Rio-Grandense de Imprensa?                          Tesoureiro da Associação de Imprensa do RS. Década de 1920. A gente da capital – alcoviteira, fofoqueira e tomada de santarrões – faz o pano de fundo. A ostentação era feita com o uso do pince-nez (óculos sem nenhuma haste, que eram presos […]

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