Parêntese | Resenha

Karina Lucena: Prestar atenção

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Karina Lucena: Prestar atenção Começo com um parêntese. Quando li a primeira crônica da Nathallia Protazio aqui na Parêntese, logo escrevi pro Fischer: que baita escritora! De lá pra cá sigo leitora entusiasmada dessa cronista divertida e certeira, e lamento quando a revista chega sem texto dela (por sorte do José Falero sempre tem).  A Nathallia reuniu suas crônicas em Aqui dentro, livro que acaba de sair pela editora mineira Venas abiertas. São dez textos de impecável controle rítmico, narrados por uma mulher que presta atenção. Presta atenção nos clientes da farmácia onde trabalha, nas suas esquisitices mais banais e nos seus dilemas profundos; presta atenção na cidade e seus detalhes, a Esquina Democrática em Porto Alegre, o caos de São Paulo, a casa da bisavó em Pernambuco, a chuva da infância no interior da Bahia, as pradarias da Suíça; presta atenção no seu corpo – nem preto nem branco, como ela mesma define – sempre exposto, sempre vigilante: “a gente não pode se maquiar e colocar uma saia sem se lembrar que nascemos no planeta errado”; presta atenção nas suas dúvidas, memórias, naquilo que aprendeu com os tombos da vida; presta atenção no outro, em quem desperta afeição – “uma senhora que pode ter entre 75 e 97 anos, pele negra e cabelos brancos, me faz lembrar da minha tia avó” –, em quem provoca desprezo – “uma herdeira saída da usina manufatureira de mentes classe média alta”. Essa observadora perspicaz ironiza, reflete, teoriza, analisa e autoanalisa. E tudo isso com a energia da mulher trabalhadora, sexualmente bem-resolvida, que toma cerveja e pula carnaval. Que baita escritora a Nathallia Protazio! E o melhor é saber que ela tem material pra pelo menos mais um livro. Só com crônicas excelentes que saíram na Parêntese e não entraram no primeiro, ela já tem um Aqui dentro II.         Karina de Castilhos Lucena Professora do Instituto de Letras da UFRGS    Karina de Castilhos Lucena é professora do Instituto de Letras da UFRGS.

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Começo com um parêntese. Quando li a primeira crônica da Nathallia Protazio aqui na Parêntese, logo escrevi pro Fischer: que baita escritora! De lá pra cá sigo leitora entusiasmada dessa cronista divertida e certeira, e lamento quando a revista chega sem texto dela (por sorte do José Falero sempre tem).  A Nathallia reuniu suas crônicas em Aqui dentro, livro que acaba de sair pela editora mineira Venas abiertas. São dez textos de impecável controle rítmico, narrados por uma mulher que presta atenção. Presta atenção nos clientes da farmácia onde trabalha, nas suas esquisitices mais banais e nos seus dilemas profundos; presta atenção na cidade e seus detalhes, a Esquina Democrática em Porto Alegre, o caos de São Paulo, a casa da bisavó em Pernambuco, a chuva da infância no interior da Bahia, as pradarias da Suíça; presta atenção no seu corpo – nem preto nem branco, como ela mesma define – sempre exposto, sempre vigilante: “a gente não pode se maquiar e colocar uma saia sem se lembrar que nascemos no planeta errado”; presta atenção nas suas dúvidas, memórias, naquilo que aprendeu com os tombos da vida; presta atenção no outro, em quem desperta afeição – “uma senhora que pode ter entre 75 e 97 anos, pele negra e cabelos brancos, me faz lembrar da minha tia avó” –, em quem provoca desprezo – “uma herdeira saída da usina manufatureira de mentes classe média alta”. Essa observadora perspicaz ironiza, reflete, teoriza, analisa e autoanalisa. E tudo isso com a energia da mulher trabalhadora, sexualmente bem-resolvida, que toma cerveja e pula carnaval. Que baita escritora a Nathallia Protazio! E o melhor é saber que ela tem material pra pelo menos mais um livro. Só com crônicas excelentes que saíram na Parêntese e não entraram no primeiro, ela já tem um Aqui dentro II.         Karina de Castilhos Lucena Professora do Instituto de Letras da UFRGS    Karina de Castilhos Lucena é professora do Instituto de Letras da UFRGS.

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