Memória

1901: O ano em que as retinas dos gaúchos brilharam mais

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1901: O ano em que as retinas dos gaúchos brilharam mais

Após o encontro inaugural com o cinematógrafo, em novembro de 1896, os porto-alegrenses tiveram raras oportunidades para assistir às projeções animadas, ao menos nos primeiros anos de sua difusão mundial. Entre 1897 e 1899, foram realizadas na cidade apenas seis temporadas de exibições cinematográficas, duas das quais em espaços locados e ocupados exclusivamente para realizá-las, ainda que de duração efêmera. Em outras palavras, salas de cinema. Nas demais ocasiões, o cinematógrafo foi um dos atrativos dos programas dos espetáculos de companhias teatrais, circenses e de variedades.

Ausentes em 1900, os exibidores cinematográficos itinerantes voltariam à capital em 1901, atraídos pela potencial oferta de público concentrada pela nossa primeira Exposição Estadual, antepassada da atual Expointer. Em consequência, sucessivas temporadas de projeções foram realizadas, ocupando teatros, uma sala especializada, um café e a própria Exposição, onde quatro diferentes exibidores sucederam-se. Alguns deles projetaram seus filmes em diferentes espaços de lazer, com o que diversificaram o alcance social de sua oferta. Vale lembrar que tais exibidores, itinerantes, costumavam visitar as mais diversas cidades, o que era condição da manutenção de sua atividade. Isso significa que os gaúchos em geral reencontraram o cinema neste ano.

Mas foi em Porto Alegre que realizou-se, entre 24 de fevereiro e 2 de junho, a “Exposição Estadual de 1901”, reunindo agroindustriais e comerciantes gaúchos, cujos produtos foram expostos em uma série de pavilhões de madeira construídos por eles próprios, pelo Município e pelo Estado, promotor da mostra, no terreno delimitado entre o edifício da antiga Escola de Engenharia da UFRGS, a Santa Casa de Misericórdia e a rua Sarmento Leite. Além daquelas construções provisórias, também foi ocupada a Escola de Engenharia, como Pavilhão Cultural, concentrando produções artísticas como pinturas e fotografias, entre outras. Para receber a mostra, a área, até então desocupada, foi urbanizada e ajardinada, passando a contar com alamedas e canteiros, chafarizes, quiosques, viveiros para exposição de animais, bancos para descanso dos visitantes, um pequeno lago e gruta artificiais, além de um amplo restaurante, um anfiteatro para concertos, uma fonte luminosa e instalações para projeções cinematográficas ao ar livre.


 Vista geral da Exposição Estadual de 1901. À direita, vê-se o edifício da Escola de Engenharia. À esquerda, um trecho do terreno vazio da Várzea, futuro Parque Farroupilha. Nele, ao fundo, está o Circo de Touros, na altura da Rua da República. Acervo Museu Joaquim Felizardo.

Ainda que limitado à realidade local, o certame não deixou de espelhar-se na Exposição Universal de 1900, realizada em Paris, que também ofereceu aos seus visitantes atrações como projeções cinematográficas e fontes luminosas. A eletricidade, que foi a grande vedete da exposição europeia, também ganhou destaque no evento gaúcho, iluminando seus ambientes externos (os pavilhões eram iluminados a gás), de modo a propiciar sua abertura à noite, quando funcionavam suas melhores atrações de lazer.

No final da tarde começavam a tocar no anfiteatro, alternando-se, as bandas de música da Brigada Militar e do Exército, além de conjuntos alemães e italianos vindos do interior do estado. Mas o evento também contou com atrativos como demonstrações de fonógrafo, luminosos publicitários, fogos de artifício, concursos de balões, os já citados cinematógrafos e uma companhia de variedades. Com tal oferta, a exposição procurou dar conta do progresso econômico, social e cultural do Estado, mas também atrair aqueles que buscavam apenas divertir-se, exercitar as sociabilidades públicas, ver e ser vistos.


Pavilhão dos concertos, onde tocavam as bandas militares. Acervo Museu Joaquim Felizardo. 

O funcionamento da exposição era diário, excetuando-se as segundas-feiras. As visitas ao local podiam ser realizadas das 9h às 12h e das 16h às 22h. O fluxo de público, que aumentava nos finais de semana, era acrescido nas manhãs dos dias úteis pela presença de grupos de escolares e operários em visitas guiadas, os quais tinham entrada franca, mas apenas nessas ocasiões. Para os demais, era necessário comprar ingressos.

Segundo o jornal A Federação, que fornecia informações diárias sobre o movimento das bilheterias, milhares foram os seus visitantes, egresso da capital e de outros municípios, bem como de outras regiões do país. O grande contingente populacional atraído pelo certame intensificou o movimento de vapores e trens de passageiros, animou o comércio e agitou as alfaiatarias, lojas de modistas e chapelarias, que chegaram a recusar encomendas. De acordo com relatórios oficiais, foram vendidos 106.601 bilhetes ao longo dos três meses da exposição. Porto Alegre contava, na época, com apenas 74 mil habitantes, incluindo as zonas urbana e suburbana, além de vários municípios hoje dela desmembrados e integrantes da sua região metropolitana.

[Continua...]

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