Memória

1910: A faculdade de direito e seu longevo diretor

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1910: A faculdade de direito e seu longevo diretor

PORTO ALEGRE 250 ANOS:  HISTÓRIA, FOTOGRAFIA E REPRESENTAÇÕES

1910: A faculdade de direito e seu longevo diretor – História

No dia 16 de julho de 1910, era noticiada a inauguração do “novo edifício da Faculdade de Direito desta capital” que traduzia “o progresso atingido sob a gloriosa bandeira do Partido Republicano do Rio Grande do Sul”. Também era exaltado que a consolidação da Faculdade de Direito foi “construída com o forte apoio do Patriarcha”, que “Borges de Medeiros seguiu a mesma norma” e que “Carlos Barbosa continua ainda hoje a dar o seu amparo à bella instituição de ensino”, porém enfatizando que “nenhum dos três interveio ou intervém na vida intima da Faculdade” (A Federação, 16/7/1910, p.1). 

Sobre este último ponto – da não intervenção governamental na “vida íntima” da Faculdade – uma observação faz-se necessária. Intervenção pode não ter ocorrido, mas influência, sim. Até mesmo pelo modelo seguido pela “ditadura positivista”. Se tinha coisa que eles não acreditavam era que os novos podiam fazer tão bem quanto os velhos. A tendência era se prolongarem no cargo. Assim foi com Borges de Medeiros, no governo do Estado, José Montaury, na Prefeitura e, na Faculdade de Direito, o desembargador André da Rocha. Que ficou como seu diretor de 1904 a 1935.

De resto um belo prédio, por fora e por dentro. Por décadas, impressionou quem passava pela av. João Pessoa. Isso antes que o arvoredo à sua frente crescesse além da conta. O que não se sabe é se o arquiteto Otto Hermann Menchen, que o projetou “inspirado no Palais do Rhin, em Estrasburgo” (WEIMER, Gunther.  A vida cultural e a arquitetura na fase positivista do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, EDIPUCRS, p. 188) chegou a presenciar tal ocultamento. Se chegou, seria interessante tê-lo ouvido a respeito.


1910: A faculdade de direito e seu longevo diretor – Representações

Deste ocultamento que o prédio da Faculdade de Direito sofreu pelo plano de arborização viária da cidade resulta que suas representações pictóricas, a maioria contemporâneas, precisam de muita criatividade. Algumas mostrando apenas parte de sua fachada, como fez Joaquim da Fonseca (Alegrete/RS, 1935 – Em atividade), numa inspirada composição (Fig. 1). Alberto Scherer (Porto Alegre, 1938 – Em atividade), em suas limpas e bem executadas aquarelas, mais de uma vez socorreu-se de fotos antigas (Fig. 2). Outros, como Velcy Soutier (Uberlândia/PR, 1951 – Em atividade), mostrando apenas sua majestosa cúpula, herança típica da arquitetura imperial romana, retomada no renascimento e consagrada no historicismo novecentista (Fig. 3).

No mais, merecem registros as diversas caricaturas de seu longevo diretor, o desembargador André da Rocha. Com suas profundas olheiras e seu bigode de foca, um prato cheio para os chargistas de seu tempo. Entre eles Hernani Irajá Pereira, o HIP, (Santa Maria/RS, 1897 – R. Janeiro, 1969), para a revista Kodak (Fig. 4), e Otto Wiedemann, o ITAG, (Porto Alegre, 1895 – Idem, 1938), para a revista Máscara (Fig. 5).


Fig. 1 – Faculdade de Direito de Porto Alegre. Joaquim da Fonseca, s/data. Tirada de: Álbum Prédios Históricos da UFRHS, Porto Alegre, RS. 

Fig. 2 – Faculdade de Direito – UFRGS. Alberto Scherer, 2013. Aquarela sobre papel Fabriano. Acervo do artista. Porto Alegre, RS.

Fig. 3 – Cúpula da Faculdade de Direito da UFRGS II. Velcy Soutier, 2022. Acrílica sobre tela, 40 x 43 cm. Acervo do artista. Porto Alegre, RS.

Fig. 4 – Desembargador André da Rocha. Hernani Irajá Pereira, o HIP, 1913. Caricatura para a revista Kodak, n. 21, 08/3/1913, p. 7. Acervo Miguel Espírito Santo, Porto Alegre, RS.

Fig. 5 – Desembargador André da Rocha. Otto Wiedemann, o Itag, 1918. Caricatura para a revista Máscara, n. 14, 11/5/1918, p.31. Tirada de: BN Digital, Rio de Janeiro, RJ. 

Arnoldo Doberstein é professor e estudioso da história de Porto Alegre.

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