Memória

Lugares da classe trabalhadora em Porto Alegre 2: Parque Farroupilha

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Lugares da classe trabalhadora em Porto Alegre 2: Parque Farroupilha

Nesses 250 anos de Porto Alegre estamos falando sobre 10 lugares significativos para a história da classe trabalhadora na capital gaúcha. Entre esses lugares estão relacionados espaços de luta, organização, solidariedade e cultura; hoje, falaremos do Parque Farroupilha.

O Parque Farroupilha, Campo da Redenção ou Campo da Várzea é um lugar de memória da classe trabalhadora em Porto Alegre. A Várzea era uma vasta área de campo que se estendia a partir do Portão da Cidade, no período colonial, que se tornou um logradouro público a partir da doação do Governador Paulo Gama em 1807. Durante o século XIX e as primeiras décadas do século XX, a Várzea foi um local de trabalho que vinculava o mundo rural com o mundo urbano, sendo o lugar onde peões, tropeiros e carreteiros traziam rebanhos de gado e produtos de origem rural para serem vendidos na cidade de Porto Alegre. Durante o século XIX, a Várzea também foi um local de reunião e sociabilidade para trabalhadores negros escravizados e livres, onde ocorriam os Batuques da Várzea, como era o Batuque da Mãe Rita, na rua Avaí, e os Batuques realizados na frente da Igreja do Bonfim. Em 1884, o logradouro foi batizado como Campo da Redenção, em memória da libertação de muitos trabalhadores escravizados em Porto Alegre naquele ano. 

Para o movimento operário, o Campo da Várzea também foi um local importante para diversas manifestações ao longo de suas primeiras décadas de existência. Ainda no final do período imperial, a Várzea foi o ponto final de uma das primeiras manifestações públicas dos trabalhadores organizados, quando o Partido Operário (Handwerkpartei), recém criado em dezembro de 1888, realizou uma passeata em homenagem ao seu candidato para a Assembleia Provincial, José Manuel da Silva Só. 

Algumas décadas depois, a Várzea seria palco do primeiro jogo de futebol de um clube de trabalhadores em Porto Alegre: o Centro Sportivo Operário, surgido dentro do movimento sindical, enfrentou o Rio-Grandense, clube da comunidade negra da capital, vencendo seu adversário por dois tentos a um. Passados alguns anos, durante a Greve de 1917, o logradouro foi também palco de um enfrentamento entre a Brigada Militar e os trabalhadores organizados, na chamada Batalha da Várzea. Nessa contenda, a jovem militante anarquista Espertirina Martins escondeu uma bomba caseira em um buquê de flores, que foi usada para afastar as forças de repressão que atacavam os grevistas. 

Em 1935, o Campo da Redenção mudou seu nome para Parque Farroupilha, em homenagem ao Centenário da Guerra dos Farrapos, evento que contou com diversas solenidades e comemorações em diversas partes da cidade. O Parque também sofreu diversas modificações, se aproximando da configuração que conhecemos hoje. Mesmo depois disso, o logradouro permaneceu como lugar de manifestação operária: em 1º de maio de 1936, o Círculo Operário de Porto Alegre realizou uma missa campal em homenagem ao Dia dos Trabalhadores, em um momento em que as organizações católicas se tornavam mais presentes no movimento operário enquanto as anarquistas e comunistas eram reprimidas. 

  • Na próxima edição dessa série vamos falar do Sociedade Italiana, antiga Sociedade Elena di Montenegro, na Rua General João Telles, no Bonfim, mais um lugar de memória operária na capital gaúcha. Além de acompanhar os textos aqui publicados, visitem e curtam a página de facebook dos Caminhos Operários em Porto Alegre, para saber um pouco mais sobre essa história. 

Frederico Bartz é mestre e doutor em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e trabalha como técnico em assuntos educacionais nessa mesma universidade, onde coordena o curso de extensão Caminhos Operários em Porto Alegre.

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