Memória

Lugares da Classe Trabalhadora em Porto Alegre 5: Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos

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Lugares da Classe Trabalhadora em Porto Alegre 5: Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos

A presença de espanhóis em Porto Alegre sempre foi relevante, desde o período colonial, pela proximidade com suas antigas colônias. Mas uma imigração mais substancial vai se dar a partir do final do século XIX. Assim como outros grupos imigrantes (alemães, italianos, poloneses, portugueses), os espanhóis também constituíram associações para ajudar os patrícios recém-chegados. A Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos foi fundada no ano de 1893, com o principal objetivo de ajudar imigrantes pobres com assistência médica. Depois de um longo tempo utilizando casas alugadas, a partir dos anos 1920 a sociedade se instalou na rua Andrade Neves, n.81-85, construindo um imponente edifício. O prédio projetado por Fernando Corona foi concluído em 1929 e trazia os sinais da solidariedade em sua fachada: um brasão com duas mãos se cumprimentando, onde podia ser lida a frase “Hoy por ti, mañana por mi” (Hoje por ti, amanhã por mim).

Além de reunir a colônia espanhola de Porto Alegre, muito cedo o lugar se tornou também ponto de encontro da classe trabalhadora e de movimentos de esquerda. Antes de sua inauguração oficial, em 1928, o prédio recebeu um dos últimos endereços do jornal O Exemplo, principal periódico da comunidade negra de Porto Alegre. Em 1933, a Sociedade Espanhola também sediou atividades vinculadas ao movimento anarquista, como reuniões da Liga Anticlerical e encontros sindicais, como do Sindicato Rio-Grandense dos Trabalhadores do Livro e do Jornal. 

A Sociedade Espanhola se declarava apolítica em seus estatutos, mas ela recebia reuniões do Centro Republicano Español, associação onde militavam nomes como Francisco Gaspar, Isidro Vila, Lourenço Pico e Fernando Corona. Em julho de 1936 se iniciou a Guerra Civil Espanhola e José Barreras Escalona, Presidente da Sociedade, foi convidado pelo governo nacionalista para assumir o Consulado Espanhol em Porto Alegre. Em resposta os sócios pediram sua renúncia da entidade, o que demonstra que havia um sentimento de solidariedade ao Governo Republicano legitimamente eleito. A partir daí a Sociedade Espanhola foi se tornando um ponto de encontro antifascista, com muitos de seus sócios contribuindo para a luta antifranquista que se desenvolvia na Espanha. 

A partir do final da Guerra Civil Espanhola e com a derrota do movimento republicano, a Sociedade Espanhola de Porto Alegre se tornou um ponto de apoio para os refugiados da Ditadura de Franco. Esse processo fez com que os nacionalistas fundassem sua própria entidade, a Casa de España, em um processo de divisão da comunidade que ultrapassou os anos de Franco, terminando apenas em 1993, quando ocorreu a unificação das duas entidades no Centro Espanhol de Porto Alegre. Mesmo assim, a Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos permanece como lugar de memória das lutas antifascistas, marcado inclusive pelo brasão republicano que ainda hoje persiste gravado em seu frontispício.

Na próxima edição dessa série vamos falar da sede da Federação Operária do Rio Grande do Sul, na rua do Parque, no antigo Quarto Distrito, mais um lugar de memória operária na capital gaúcha.

  • Além de acompanhar os textos aqui publicados, visitem e curtam a página de facebook dos Caminhos Operários em Porto Alegre, para saber um pouco mais sobre essa história. 

Frederico Bartz é mestre e doutor em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e trabalha como técnico em assuntos educacionais nessa mesma universidade, onde coordena o curso de extensão Caminhos Operários em Porto Alegre.

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