Nossos Mortos

O centenário de Dona Ivone Lara, uma joia rara

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O centenário de Dona Ivone Lara, uma joia rara Dona Ivone Lara na Virada Cultural de SP, em 2008 (Foto: Natalia Bezerra/Creative Commons)
“Nossa Escola” é o título de uma música que explodiu nas rodas de samba do Rio de Janeiro e se espalhou pelo Brasil. O seu refrão dá título a este texto. Composto por Luciano Bom Cabelo, Alex Primitude, Gabi, Pipa Vieira, Ronaldo Camargo e Vinicius Maia, a música cita diversos nomes de bambas como Almir Guineto, Altamiro Carrilho, Roberto Ribeiro, Cartola, Waldir Azevedo e até Pelé, o dono da bola e único de fora do mundo da música, apesar das infrutíferas tentativas do rei do futebol de ser um grande cantor. De todos estes nomes apenas três são de mulheres: Dona Ivone, Jovelina e Clementina. A proporção de homens e mulheres, infelizmente, condiz com a verdade. Estamos falando de um mundo predominantemente masculino e por consequência machista. Desde os primórdios das escolas de samba ou nas rodas espalhadas pelo subúrbio carioca, para a mulher conseguir um lugar à mesa e cantar um samba de sua autoria levou tempo, muito tempo. Hoje cantada em melodia neste sucesso do samba marginalizado pelas rádios e tvs, mas imensamente difundido através do Youtube – poucos ritmos musicais se valeram tanto da bengala da internet como o samba –, Dona Ivone foi uma precursora de coragem, um coragem que talvez nem ela soubesse que tinha. Vítima das atribulações da vida – perdeu o pai aos três anos e a mãe aos dezesseis –, suas composições eram levadas adiante pelo primo, e grande baluarte do samba, Mestre Fuleiro. Antes de se tornar uma compositora imortal, Ivone foi uma das primeiras mulheres negras deste país negro a concluir um curso superior. Exerceu a assistência social de forma marcante ao contribuir com a doutora Nise da Silveira para a reforma psiquiátrica do Brasil. Especializou-se em terapia ocupacional e dedicou boa parte de sua vida ao atendimento humanizado dos pacientes, incluindo a terapia musical. Antes de tudo isso, ainda adolescente, estudou no internato Orsina da Fonseca, onde teve aulas de música erudita com Lucília Villa-Lobos, esposa de Heitor Villa-Lobos. Mas tia Ivone se encontrou mesmo foi no samba. O dna musical de seu pai, violonista, e da mãe, cantora, já havia se manifestado quando aos 12 anos de idade compôs um samba para seu passarinho Tiê. Ritmo e herança cultural se apresentam juntos e para sempre nas palavras de origem africana e no ritmo miscigenado. Aprendeu cavaquinho com seu tio Dionísio, que lhe acolheu após a perda dos pais. Conciliando essa vida dupla de Mulher Maravilha entre o trabalho como assistente social/enfermeira e sambista, rompeu barreiras ao ser a primeira mulher na ala de compositores do Império Serrano. Consequentemente se torna a primeira mulher a assinar um samba-enredo para uma escola. Após aposentar-se da assistência social e ficar viúva, finalmente Ivone abraça o seu destino e se joga na vida de artista. Assume o nome de Dona Ivone Lara e estoura a bolha do mundo carnavalesco, onde já era uma personalidade. Aos 53 anos no ano de 1974, ela realiza o primeiro show da sua carreira e em 1978 […]

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