Nossos Mortos

O que aprendi com Paulo

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O que aprendi com Paulo Paulo José em cena de O homem que copiava (Foto: acervo Casa de Cinema)

Paulo José vai deixar muitas saudades. Tive o privilégio de conviver e aprender muito com ele.

No primeiro longa que fiz como continuísta (“O mentiroso”, 1986), ele era ator e, quando me via enlouquecida com o tamanho do cigarro, ou com o quanto de cerveja tinha do copo, me olhava e, gentilmente, me dizia “Ana, a câmera àquela distância e com aquela lente, será que tá pegando o tampo da mesa?”. Eu olhava na câmera, e ele tinha razão. Neste trabalho, aprendi com ele muito sobre lentes e no quê eu deveria realmente prestar atenção.

Depois fiz assistência de direção nos trabalhos que ele vinha dirigir em Porto Alegre. Quando chegávamos na locação, o Paulo pensava alto como pretendia filmar, gesticulando e falando sozinho. Quando terminava aquele delírio, me olhava e perguntava: por onde começamos? E a equipe inteira, que tinha acompanhado atentamente todo o seu raciocínio, já sabia onde colocar a câmera, onde montar o trilho, etc… Alguns diziam que ele era um delirante, mas foi assim que eu entendi o que era ser diretor, e, especialmente, o que é conduzir uma equipe.

Em trabalhos onde ele era ator e eu assistente de direção, além de preparar o plano de filmagem, eu tinha que estudar os personagens que contracenavam com ele. Na primeira hora de trabalho, o Paulo entrava no set, já figurinado, passando o texto e me provocando a contracenar com ele. Quando veio filmar “Saneamento Básico” (2006), fui duas vezes levá-lo até Bento Gonçalves. Foram duas viagens inesquecíveis: para fazer exercícios de dicção, ele recitava poesia. E, às vezes, poesia em italiano, como se fosse o personagem Otaviano Marghera.

Aprendi com Paulo muito sobre dramaturgia, sobre direção, sobre atuação e construção de um personagem e, especialmente, sobre generosidade.


Ana Luiza Azevedo Diretora e roteirista. Sócia da produtora Casa de Cinema de Porto Alegre. 

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