Nossos Mortos

Walter Galvani, amável e ferino

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Walter Galvani, amável e ferino Galvani morreu no dia 29 de junho, aos 87 anos (Fotos: Luzimar Stricher)

Faleceu esta semana Walter Galvani, e todo mundo do meio intelectual soube – e em todo esse mundo, em cada uma das pessoas que ficaram sabendo, deverá ter repontado uma lembrança boa dele. Galvani era uma figura amável, disponível, atuante, e também era capaz de fazer observações ferinas em privado. Jornalista do tempo em que isso significava cheirar tinta e papel todos os dias, tinha voz de locutor de rádio, do tempo em que o rádio tinha locutores de voz marcante.

No arquivo do Correio do Povo, onde trabalhou por décadas. Ao seu lado, a cinegrafista Luzimar Stricher

Morreu aos 87 anos, o que conforta um pouco pela longevidade. Mas mais do que o mero transcurso do tempo há a obra, que é mais que tudo, para quem fica. Ele foi patrono da Feira do Livro, uma das nossas mais veneráveis instituições, e para a ocasião produziu uma ótima história da Feira, que ele, atenção, acompanhara como repórter desde sua primeira edição. 

Galvani e a companheira Carla Irigaray

Naquela altura já tinha posto de pé uma respeitável obra em livro. Menciono dois casos apenas: um, sua biografia de Pedro Álvares Cabral, Nau capitânea, que fez bastante sucesso. Lembro de conversar com ele sobre o livro, lançado num momento em que outro jornalista da cidade, Eduardo Peninha Bueno, estourava o sucesso de livros de história do Brasil também dedicados às lonjuras do século 16.  Não sei se foi dele ou minha a comparação: eram de fato casos paralelos, ambos jornalistas do Rio Grande do Sul lançando livros históricos; mas enquanto um era leitor de Balzac, ele, o outro era leitor de On the road

O Outro grande livro de Galvani tem força desde o título: Um século de poder – Os bastidores da Caldas Júnior. Lançado em 1994, livro reporta, com fartura de dados, quase exatos cem anos do antigo Correio, fundado em 1895. Há conversas de bastidores, há intrigas palacianas, há dados objetivos, enfim é um livro de jornalista, não de historiador de formação acadêmica. Por isso mesmo é precioso.

  • Para quem quiser conhecer mais, há aqui um ótimo documentário, produzido e dirigido por Luzimar Stricher, que é também a autora das fotos aqui reproduzidas.

Luís Augusto Fischer é professor de Literatura na UFRGS, autor de, entre outros, “Dicionário de porto-alegrês” e “Literatura brasileira: modos de usar”, ambos pela L&PM . É curador da revista Parêntese.

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