Entrevista | Parêntese

O mundo à margem da Lagoa

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O mundo à margem da Lagoa
Por Patrícia Lima A margem da Lagoa dos Patos foi o cenário das três longas entrevistas que fiz com o oceanógrafo e museólogo Lauro Barcellos nos últimos 20 anos. Houve outros encontros, rio-grandinos que somos acabamos sempre nos esbarrando aqui e ali. Mas entrevistas, valendo, foram essas três. A primeira ocorreu no inverno de 2000, eu foca, recém-formada, fui ao encontro do diretor do Museu Oceanográfico da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), um Lauro no auge da carreira, barba cerrada e cabelos escuros, arranjados em uma boina preta de marinheiro. O sobretudo protegia o corpo alto e forte do vento gelado que a Lagoa mandava sobre nós. Estávamos sentados em uma pedra – ou um caixote, a memória já me engana nos detalhes – ao lado de um velho entreposto de pesca abandonado. Inaugurado pelo então presidente Getúlio Vargas, nos anos 1940, o grande prédio nas margens da Lagoa servia de abrigo para usuários de drogas, praticantes de roubos e furtos e cães abandonados. A pauta era a aprovação, anunciada naquele mesmo dia pelo BNDES, de um projeto sonhado por Lauro desde 1986: transformar aquele lugar degradado em um centro de convívio e escola para crianças em situação de vulnerabilidade na cidade. A matéria não foi manchete, mas ganhou uma boa página na edição do dia seguinte no jornal local. O segundo encontro ocorreu oito anos depois, também no inverno, em outro ponto da mesma margem. Em um pequeno anexo ao Museu Oceanográfico, construído sobre palafitas, Lauro equipou uma espécie de sala-cozinha para receber amigos marinheiros, dar entrevistas e alimentar os bem-te-vis que fazem ninhos nas árvores ao redor do museu. Entre goles de café, o personagem aguardava ansioso pela inauguração do projeto que havia anunciado anos antes. O Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar) se tornaria, finalmente, uma realidade. Ligado à Furg, instituição na qual Lauro está inserido há 45 anos, o Centro abriria as portas algumas semanas depois daquela entrevista, publicada na Revista Náutica. Nos primeiros dias de 2020, esta matéria para a Parêntese me leva novamente à margem da Lagoa dos Patos. Faz muito calor em Rio Grande. Somente no fim da tarde a brisa fresca que vem das águas é capaz de aliviar o abafamento. O encontro com o agora doutor honoris causa Lauro Barcellos ocorre no interior daquele velho entreposto de pesca abandonado – que de velho ou abandonado não tem mais nada. Já são 11 anos completos de funcionamento do projeto com que Lauro sonhou durante boa parte da vida adulta. O CCMar já atendeu perto de 11 mil jovens de 14 a 17 anos, oferecendo-lhes 15 cursos pré-profissionalizantes como Auxiliar em Operações Portuárias e Retroportuárias, Costuraria e Crochê, Construção Naval, Movelaria, Panificação e Confeitaria e Práticas de Agricultura e Meio Ambiente, entre outros. Importante: desde a primeira turma, renda familiar baixa e frequência na escola regular são indispensáveis para o ingresso. Aguardo a chegada de Lauro em uma sala de estar que, para quem o conhece, fica óbvio que […]

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