Operação Falero

Humildade fidalga

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Humildade fidalga

Conheci o José Falero por intermédio da Silvana Rodrigues, nossa grande amiga do teatro. Ainda guardo na memória alguns frames do nosso primeiro encontro em uma praça ao lado da quadra da escola de samba Unidos da Vila Mapa. Ali, entre goles de cerveja e o jogo de sinuca, selamos a nossa aliança de amizade e admiração mútua. A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa naquele dia foi devorar o Vila Sapo, inteirinho, sem dó. 

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Conheci o José Falero por intermédio da Silvana Rodrigues, nossa grande amiga do teatro. Ainda guardo na memória alguns frames do nosso primeiro encontro em uma praça ao lado da quadra da escola de samba Unidos da Vila Mapa. Ali, entre goles de cerveja e o jogo de sinuca, selamos a nossa aliança de amizade e admiração mútua. A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa naquele dia foi devorar o Vila Sapo, inteirinho, sem dó. 

Falero nos leva a uma baixada até então desconhecida, ignorada, esquecida, da nossa própria cidade. Reivindica um olhar digno para as periferias, recusando para o seu texto a cômoda facilidade dos estereótipos. Linguagem áspera e fluída, que, como a câmera de Aloysio Raulino no documentário Lacrimosa (1970), “nos obriga a ver a cidade por dentro”. Experiência tensa – que distende os nervos do tempo a ponto de nos causar espanto.

Falero e a sua vila (Foto: Tomas Edson)

Como pode um livro tão curto ser tão extenso e longo em relação ao espaço-tempo? 

Ainda não sei, talvez nunca saiba. 

“Se queres ser universal começa por pintar tua aldeia” diria o escritor russo Tolstoi. Arrisco-me a dizer que o Zé pintou a sua muito bem. 

P.S. Os Supridores eu ainda não li, mas já me disseram que não será um Vila Sapo 2 .

P.S. O que eu mais gosto de ver no José Falero é a sua humildade. Que não é aquela humildade dos que se abaixam demais e o rabo aparece, mas a humildade fidalga da estirpe de um Cartola ou então de um Pixinguinha. Sem contar que ele não é daqueles sujeitos oprimidos pela ética protestante do trabalho acadêmico. A bagagem dele é outra e vem operando uma revolução discreta. Só sei dizer que para mim é uma imensa alegria ser contemporâneo e conterrâneo desse malandro raro. 

Vida longa meu mano, que os orixás te protejam. 


Duan Kissonde (1993) é poeta e estudante de História na Ufrgs, onde pesquisa as territorialidades negras na cidade de Porto Alegre. Como poeta participou das antologias; Pretessência (2016), Antologia Literária Jovem Afro (2017), Cadernos Negros vol 41 (2018), Revista Ovo da Ema (2018), Coletânea Ancestralidades (2019). Água de Meninos (2020) é seu primeiro livro solo, publicado pela Editora Taverna.

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