Pensata

A extinção da Fundação Cultural de Canela, com 30 anos de atividades

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A extinção da Fundação Cultural de Canela, com 30 anos de atividades Na imagem, o ator Alessandro Müller, do grupo Nós Mimo, antes do espetáculo Fritz. (Foto: Divulgação)

Tentei argumentar que, puxa, era só ver os editais abertos do Governo do Estado – um deles o maior da história do RS, chamado “Diversidade das Culturas”. 

– A Fundação precisa incluir, se abrir, ser plural. Temos tanta gente que poderia estar aqui, contribuindo. 

Mas não, negaram a proposta de criação do Departamento de Ações Afirmativas.

– NA FUNDAÇÃO NÃO TEM RACISMO, NÃO TEM PRECONCEITO.

E com essa afirmação, típica, lamentavelmente o fim se aproximava.

A dívida gigantesca, por falha na prestação de contas em evento de 2011, veio a se tornar o motivo principal do fechamento da entidade. Mas é sabido que o mau espírito em âmbito federal, que na preconceituosa serra gaúcha foi acachapante, havia chegado e contaminado.

– Que cacique, o quê, índio é tudo vagabundo.

Com estas palavras de pessoas da Direção – ligadas à Prefeitura –, é certo que não havia volta.

O desmonte estava feito.

Teatro fechado. Centro cultural Casa de Pedra interditado. Fundação Cultural extinta. Esvaziamento do Conselho. Sem fundo, sem editais (nem emergenciais durante a pandemia), sem Feira do Livro. Zero política pública.

É um projeto.

Testemunhei de dentro a deterioração de uma instituição que serviu por 3 décadas a nossa comunidade e encheu os olhos de visitantes com a beleza transformadora da arte.


O projeto de destruição da cultura tem que acabar.

E essa gente ainda tem a coragem de dizer que o problema é o ideário de esquerda que atrapalha uma área tão humana como a nossa. 

Mas a hora deles vai chegar.

Seguimos. 


Depoimento de empresária do setor turístico, apoiadora e frequentadora dos projetos e eventos culturais:

Fico triste com a extinção da Fundação Cultural de Canela, porque via nela uma entidade de referência em muitos aspectos. Sou empresária do ramo de turismo e sempre apoiamos eventos culturais através dessa entidade, desde festivais de teatro de bonecos até feiras do livro, entre outros. 

A memória cultural da cidade tem sempre algum vínculo com a Fundação e hoje me pergunto para onde vou olhar, quando buscar o resgate dessa história. Vejo o acervo reunido durante os últimos 30 anos disperso na casa de pessoas que não querem vê-lo desaparecer, porém seria muito importante tê-lo num local adequado, todo reunido, como testemunho de uma história que deve ser preservada. 

A memória do nosso querido escritor Josué Guimarães e de D. Nydia, que deu nome ao espaço onde tantas vezes nos reunimos para assistir a peças, filmes, debates, está intimamente ligada à força criativa dessa cidade cheia de talentos artísticos. Josué dá nome à biblioteca municipal, e D. Nydia é sempre citada como a articuladora de movimentos culturais que aconteceram em Canela, com seu grande número de amigos e admiradores do campo das artes. Isso tudo é história, é admiração, orgulho, afeto. Está ligado à identidade de Canela tanto quanto a cascata do Caracol ou a Catedral de Pedra, é nosso patrimônio. 

Não podemos jogá-lo fora, porque é ele que nos distingue e nos torna únicos. Uma cidade responsável tem de ser sustentável, preservando não só seu meio ambiente, mas suas raízes, sua história, valorizando-a e cuidando de incorporá-la à vida dos seus visitantes e das novas gerações.


Fernando Gomes – Produtor cultural

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