Chiquinho do Acordeom, primeira parte – Capítulo XXXIV
É a hora de dar uma aprofundada num gaúcho que deve muito da sua carreira a Radamés Gnattali, o titular de nosso capítulo anterior.
Ele nasceu Romeu Seibel, dia sete de novembro de 1928, em Santa Cruz do Sul. Mas ficou conhecido justamente pelo instrumento que ele elevou a um outro patamar no Brasil: Chiquinho do Acordeom.
150km a oeste de Porto Alegre, Santa Cruz é uma típica cidade gaúcha daquelas habitadas basicamente por imigrantes alemães. Terra de indústria fumageira, é até hoje – aparentemente – um lugar onde não há nem muito pobres nem muito ricos. A família Seibel, de classe média alta, era dona de uma confecção e de uma alfaiataria que atendia a elite da cidade. Foi, por exemplo, a primeira casa do bairro a ter um automóvel na garagem.
Como bons descendentes de bisavós alemães – o que, no Rio Grande do Sul, chamamos de “a alemoada”-, faziam muita música em família. O pai, João Walter, se revezava entre o bandoneon e o clarinete. A mãe, Dona Julieta, tocava cítara de mesa. Cítara de mesa, clarinete e essa invenção germânica que mais tarde floresceria no tango, o bandoneon: mais alemoada impossível.
O apelido “Chiquinho” veio da semelhança com Chico Bóia, que era como se chamava no Brasil Fatty Arbuckle, um comediante do cinema mudo, com cara de alemão rechonchudo como era O Chiquinho da primeira infância (aos oito meses já pesava 12 quilos). O apelido resistiu quando, aos oito anos, a semelhança já se esvaíra, graças em parte à dedicação ao basquete. E foi aí que o menino ganhou sua primeira gaita (que é como os gaúchos chamam o acordeom).
[Continua...]