Capítulo LXXVII – Um milhão de melódicos melodiosos – ou: os anos de transição (Parte 23)
Dezenas e dezenas de histórias e nem falamos em Aristides Villas-Boas ou no Noblesse. Tampouco citamos o Melódico Mocambo, os autointitulados Baldaufinhos (tava até no cartaz!), que ficaram em quarto lugar naquela enxurrada de cartas na mesa do Walter Galvani, sobre a qual falamos lá atrás. Nem percorremos os que, mais tarde, virariam conjuntos de baile tradicionais, no interior ou na capital: Caravelle, Je Reviens, Itamone, João Roberto e Seu Conjunto e tantos outros. Nem mesmo contamos a história do Melódico Berimbau, composto por futuros padres do Seminário de Viamão (cidade da Grande Porto Alegre) e com um pé no rock.
Pra ver o tamanho dessa cena tão esquecida.
Mas antes de encerrar, a gente precisa de pelo menos um passeada por quatro grandes músicos já mencionados várias vezes, mas só de raspão: os pianistas Délcio Vieira e Adão Pinheiro, o saxofonista Wladimir Latuada e o baterista e compositor Mutinho. Dos primeiros dois falaremos agora.
O grande momento de Délcio foi como pianista da all star Orquestra de Karl Faust, a big band da Rádio Gaúcha. Não tocou em nenhum melódico, mas chegou a ter sua própria orquestra que excursionou pela Argentina e tudo. E teve duas modernérrimas músicas gravadas por Norberto Baldauf e pelo Primo nos anos 1950. A partir dos anos 1970, foi um segredo bem guardado. Desconhecido do público, cultuado pelos músicos.
Morreu poucos meses depois de um festão de 90 anos onde tocou lindamente, revezando-se no piano com todos os grandes de sua geração (e de várias seguintes) que estavam em Porto Alegre na data. O grande comentário da noite era sobre como ainda soava moderno seu jeito de tocar e suas composições.
Adão era de uma família de músicos nascidos em Santa Maria: seu irmão Paulo Pinheiro, outro excelente pianista, lançou um belo LP em 1983 chamado Noturno. Hélio e Edy, outros irmãos, também eram músicos, atuando principalmente na noite de Porto Alegre.
[Continua...]