Professor Quino: 1932-2020
Às vezes somos atropelados pelos fatos. E nenhum fato de 2020 foi mais marcante no mundo dos quadrinhos e do humor gráfico até agora do que a morte de Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino. Raras vezes chorei com o falecimento de um artista, mesmo nos casos de alguns que admiro muito. Esses seres sempre parecem tão inalcançáveis, tão distantes… Dessa vez, no entanto, foi diferente. Ao assistir as inúmeras postagens nas redes sociais sobre o falecimento do grande gênio do cartum argentino, as lágrimas vieram com facilidade. A cada novo comentário, lembrança ou homenagem – de leitores, de artistas, de tantas pessoas que cresceram lendo as tiras e cartuns do autor –, senti a perda de Quino como quem sente a partida de um amigo próximo. O curioso nisso tudo é que, aos 88 anos, Quino já tinha prestado todos os maiores serviços possíveis à humanidade com a sua arte. Ainda assim, por alguma razão, o pesar ainda é muito grande. As homenagens, que já são várias, todas muito tocantes e bastante apaixonadas, ainda serão poucas, pois a morte de Quino é, sem exagero, o fim do ciclo de um dos maiores artistas do século XX.
Antes de mais nada: Quino não fez apenas as tiras de Mafalda e de seus amigos Manolito, Felipe e Susanita. Claro: a menina contestadora que odeia sopa é, indiscutivelmente, uma das personagens de quadrinhos mais queridas e conhecidas do Mundo. Entretanto, falar dela como única referência da obra de seu criador seria uma injustiça extrema. Quino foi um dos maiores gênios da história do cartum, gênero que ele dominou como poucos, como aponta Paulo Ramos em seu livro Bienvenido – Um passeio pelos quadrinhos argentinos.
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