Poesia permeada por palavras e por silêncios
Já nas páginas iniciais de Literatura Afeminada (Folhas de Relva Edições, 84 páginas, R$ 45,90), o poeta Amarildo Felix anuncia que é preciso “evocar outra espécie de musa”. Como descreverá logo na sequência, a musa que celebra tem “voz grossa e pelo no peito” e também “pele preta”. Mais adiante, em outra passagem do livro, Felix declara que é um homem negro, cisgênero e gay – delimitando que, desse lugar, escreve seus poemas de amor, liberdade e denúncia, em busca de um vocabulário que dê conta de sua forma de ser e estar no mundo. Seus versos evocam ainda erotismo, prazer e sensualidade, em contraponto ao que chama de “amor burguês”, em uma crítica ao que descreve como uma trajetória linear e entediante dos afetos.
Dando voz a inquietações atravessadas por questões de raça, gênero, orientação sexual e classe, Felix mistura objetivo e subjetividade – demonstrando que as duas dimensões, por fim, não se separam. Nessa mescla, permeada tanto por palavras quanto por silêncios, o poeta vai do prazer à tristeza sem titubear, recorrendo também à ancestralidade e a orixás cultuados no candomblé para desorganizar o mundo padronizado e sintético em que vivemos. Conforme afirma o escritor Marcelino Freire no texto de apresentação da obra, Felix é a “fina flor” que faltava à “literatura, tadinha, tão murchinha e desconsolada”.
Nos Limites da Lei: A Escravidão Contemporânea no Interior de São Paulo (1991-2010) | Nauber Gavski da Silva
[Continua...]