Revolução feita com modos suaves, lirismo e belas melodias
LIVROS
Nara Leão: Nara – 1964 | Hugo Sukman
Nos agitados meses que antecederam o golpe militar de 1964, acontecia no Rio de Janeiro uma revolução – essa de verdade – musical. Guiada pela intuição e pelo faro de uma Nara Leão (1942 – 1989) estreante e aparentando ainda menos idade do que os 22 anos que de fato tinha, a tal revolução se concretizou em um disco em que tudo era novo – e com cada uma das faixas apontando para algo que viria a se consolidar na música brasileira nos anos seguintes.
Em Nara, a “musa” rompia com a bossa nova para dar voz ao samba e à canção de protesto, valorizando compositores como Zé Keti, Nelson Cavaquinho e Cartola. Essa revolução feita com modos suaves, lirismo e belas melodias é narrada em Nara Leão: Nara – 1964, da coleção O Livro do Disco (Cobogó, 224 páginas, R$ 49,50), pelo jornalista e pesquisador Hugo Sukman.
Mobilizada pela profundidade social do samba do morro, Nara realizou um trabalho, acima de tudo, político. “Esse primeiro disco, para mim, foi falar de uma coisa que eu achava muito importante, falar dos problemas brasileiros. Eu tinha muito a ideia de reportagem musical, mostrar ao pessoal de Copacabana o que o morro faz, uma coisa de reportagem mesmo”, contou Nara.
É possível contar boa parte da história da música brasileira a partir do LP, peça-chave para o entendimento daqueles tempos. “Cada uma de suas músicas narra um pouco da história daquela época, cada canção tem uma história. E todas elas se juntam para formar um painel da música brasileira no período”, explica o autor.
Nas palavras de Caetano Veloso, Nara Leão foi uma das responsáveis por iniciar “o movimento de politização da moderna canção brasileira pós-bossa nova: era, por um lado a força dos temas sociais que se impunha, por outro, a força da música popular brasileira, essa onda imensa que já vem de lá de trás e que não pode deixar de arrastar tudo…”.
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