Relampo

chi-chi-chi le-le-le

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chi-chi-chi le-le-le DIÁLOGO NA RESTINGA – Bah, tô tri a fim de ler um livro novo do Falero, manja? – Pô, massa. Será que tem na biblioteca pública municipal? – Aqui na Restinga? – Isso, abriu faz tempo, em 2001. Mas ninguém tá ligado porque fica escondida dentro da capatazia do DMLU e não tem nenhuma placa na frente. – Hum… mas será que esses caras compram os livros logo que eles publicam? Esse do Falero é novidade. – Pior. Nesse caso, talvez seja melhor tu tentar ir naquela biblioteca pública do Centro Municipal de Cultura. É no Menino Deus, quase na Cidade Baixa. A prefeitura gasta quase toda a grana nesses centros culturais lá do centro. Prá gente aqui sobra uma merreca do orçamento. – Porra, mas os ônibus quase não tão passando por causa da pandemia, que caralho. – Ah, de boas. Chega ali no Centro Cultural Multimeios e pede prá usar o cavalinho que eles soltam pra pastar no pátio, enquanto os burocrata não acham solução prá licitação aquela que fracassou no ano passado… (Naira Hofmeister, livremente inspirada na política pública cultural porto-alegrense) BOMBONS DE LITERATURA “O garfo é a radiografia da colher”. Se o romance, por sua abundante informação, é o churrasco de domingo em família, as greguerías são o caramelo verbal para a sobremesa do leitor. Irmão menor dos aforismos, das máximas e dos pensamentos, este gênero breve, segundo o espanhol Ramón Gómez de la Serna (autor dos fragmentos a seguir), explora o subconsciente e é a fatal exclamação “das coisas e da alma quando, por casualidade, tropeçam entre si”. Se para os surrealistas a beleza era o resultado do encontro fortuito de uma máquina de costura e um guarda-chuva sobre uma mesa de dissecção, as greguerías nascem do acasalamento da metáfora e do humor. Em dias de frio ou de chuva, numa tarde solitária ou entre amigos, convém ter à mão um surtido destas piruetas da linguagem para acompanhar com café: “O cisne mete a cabeça debaixo d’água para conferir se há ladrões debaixo da cama”. “A espinha dorsal é o bastão que engolimos ao nascer”. “O sonho é um depósito de objetos extraviados”. “A andorinha chega muito longe porque é arco e flecha ao mesmo tempo”. “O que é a ilusão? Um suspiro da fantasia”. “Veneza é o lugar onde navegam os violinos”. “A ü com trema é a letra malabarista do abecedário”. “A gasolina é o incenso da civilização”. “Nos dias de chuva, o metrô se transforma em submarino”. “O rouxinol é o Hamlet dos pássaros”. “A coruja é a lâmpada da mesa de cabeceira do bosque”. “Aquela mulher me olhou como a um táxi ocupado”. “O elefante é a enorme chaleira da floresta”. “O mar arrasta o rio pelos cabelos”. “O perfume é o eco das flores”. (Víctor Lemus) 20 GRAUS Em junho de 2015, o grande escritor e gente boa Leonardo Padura deu uma palestra na Feira do Livro de Canoas e fez esta bela observação ideológico-climática: “a diferença entre o comunismo […]

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DIÁLOGO NA RESTINGA – Bah, tô tri a fim de ler um livro novo do Falero, manja? – Pô, massa. Será que tem na biblioteca pública municipal? – Aqui na Restinga? – Isso, abriu faz tempo, em 2001. Mas ninguém tá ligado porque fica escondida dentro da capatazia do DMLU e não tem nenhuma placa na frente. – Hum… mas será que esses caras compram os livros logo que eles publicam? Esse do Falero é novidade. – Pior. Nesse caso, talvez seja melhor tu tentar ir naquela biblioteca pública do Centro Municipal de Cultura. É no Menino Deus, quase na Cidade Baixa. A prefeitura gasta quase toda a grana nesses centros culturais lá do centro. Prá gente aqui sobra uma merreca do orçamento. – Porra, mas os ônibus quase não tão passando por causa da pandemia, que caralho. – Ah, de boas. Chega ali no Centro Cultural Multimeios e pede prá usar o cavalinho que eles soltam pra pastar no pátio, enquanto os burocrata não acham solução prá licitação aquela que fracassou no ano passado… (Naira Hofmeister, livremente inspirada na política pública cultural porto-alegrense) BOMBONS DE LITERATURA “O garfo é a radiografia da colher”. Se o romance, por sua abundante informação, é o churrasco de domingo em família, as greguerías são o caramelo verbal para a sobremesa do leitor. Irmão menor dos aforismos, das máximas e dos pensamentos, este gênero breve, segundo o espanhol Ramón Gómez de la Serna (autor dos fragmentos a seguir), explora o subconsciente e é a fatal exclamação “das coisas e da alma quando, por casualidade, tropeçam entre si”. Se para os surrealistas a beleza era o resultado do encontro fortuito de uma máquina de costura e um guarda-chuva sobre uma mesa de dissecção, as greguerías nascem do acasalamento da metáfora e do humor. Em dias de frio ou de chuva, numa tarde solitária ou entre amigos, convém ter à mão um surtido destas piruetas da linguagem para acompanhar com café: “O cisne mete a cabeça debaixo d’água para conferir se há ladrões debaixo da cama”. “A espinha dorsal é o bastão que engolimos ao nascer”. “O sonho é um depósito de objetos extraviados”. “A andorinha chega muito longe porque é arco e flecha ao mesmo tempo”. “O que é a ilusão? Um suspiro da fantasia”. “Veneza é o lugar onde navegam os violinos”. “A ü com trema é a letra malabarista do abecedário”. “A gasolina é o incenso da civilização”. “Nos dias de chuva, o metrô se transforma em submarino”. “O rouxinol é o Hamlet dos pássaros”. “A coruja é a lâmpada da mesa de cabeceira do bosque”. “Aquela mulher me olhou como a um táxi ocupado”. “O elefante é a enorme chaleira da floresta”. “O mar arrasta o rio pelos cabelos”. “O perfume é o eco das flores”. (Víctor Lemus) 20 GRAUS Em junho de 2015, o grande escritor e gente boa Leonardo Padura deu uma palestra na Feira do Livro de Canoas e fez esta bela observação ideológico-climática: “a diferença entre o comunismo […]

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