Entrevista | Parêntese

Renato Rosa: Um papo com ironia, deboche e crítica

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Renato Rosa: Um papo com ironia, deboche e crítica Renato Rosa é figura preciosa da história cultural de Porto Alegre  Por Luís Augusto Fischer Renato Rosa é uma figura preciosa da história cultural recente da cidade e do Estado. Envolvido em teatro por alguns anos, numa geração que contava com grandes talentos – muitos depois passando a viver no Rio ou em São Paulo –, Renato passou a ser marchand, metiê em que tem trajetória central para as artes plásticas do RS dos anos 1970 para cá. Nascido em 1946, em São Gabriel, um tipo cheio de verve, Renato tem sido muito ativo no Facebook, por onde aliás comecei a conversa com ele. Ali ele tem publicado suas fotos, composições de imagens que dão gosto.  A entrevista tentou repassar pontos decisivos de sua trajetória. Como se verá em seguida, Renato tem coisa para contar que daria um belo livro de memórias, pelo qual o cobrei insistentemente. Apenas um tema o Renato não desenvolveu. Perguntei a ele se não se incomodaria de falar sobre homossexualidade. É claro que não há, nem de longe, qualquer interesse sensacionalista da minha parte; o que me levou à pergunta foi o interesse no registro histórico de uma experiência geracional, de um pessoal que viveu realidades muito diversas das atuais.  A resposta foi ótima: “Sabes a paródia do ‘Tell me once again’? Kkkkk.. é por aí. Creio que essa nuvem cor de rosa de Priscila, Rainha do deserto não entrará nessa pauta. Simples: até hoje não me questionaram – diretamente – sobre o tema e, sério, a única vez que isso aconteceu foi eu comentar em off mas sem pedir que frisassem o fato, o sujeito gostou do que falei e tascou!! Não gosto dessa abordagem em mim mas… Posso te contar agora o que falei: ‘A Nega Lu, o Djalma do Alegrete e eu somos pessoas absolutamente distintas entre si e com trajetórias mais distintas em cada um. Embora sejamos negros e homossexuais'”. Essa clareza, cheia de ironia, deboche e angulação crítica, é uma das marcas da conversa e da personalidade do Renato, que aqui vai registrada.  A entrevista foi feita por WhatsApp, entre fins de abril e começos de junho, e editada pela Cláudia Laitano. – Luís Augusto Fischer Parêntese – Conta um pouco da tua história antes de chegar a Porto Alegre. Renato Rosa – Nasci na Campanha, na pacata São Gabriel, em cujas cercanias consta que morreu Sepé Tiaraju. Vivíamos numa casa de esquina, simples, de madeira e chão batido. Embora situada a uma quadra da praça principal, não havia banheiro dentro de casa. A patente era externa, num canto do terreno, e no outro extremo havia uma torneira de água encanada e uma tina. Meu nome foi escolhido por minha madrinha, Hedy Severgnini, uma loira linda, exuberante, que escrevia, tocava piano e compunha, e era amiga de infância e juventude de minha mãe. Ela achava que Sérgio Renato era um nome lindo, de galã de radionovela. Me criei em um ambiente cercado de mulheres fortes e viúvas.Vi, certa vez, minha […]

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Renato Rosa é figura preciosa da história cultural de Porto Alegre  Por Luís Augusto Fischer Renato Rosa é uma figura preciosa da história cultural recente da cidade e do Estado. Envolvido em teatro por alguns anos, numa geração que contava com grandes talentos – muitos depois passando a viver no Rio ou em São Paulo –, Renato passou a ser marchand, metiê em que tem trajetória central para as artes plásticas do RS dos anos 1970 para cá. Nascido em 1946, em São Gabriel, um tipo cheio de verve, Renato tem sido muito ativo no Facebook, por onde aliás comecei a conversa com ele. Ali ele tem publicado suas fotos, composições de imagens que dão gosto.  A entrevista tentou repassar pontos decisivos de sua trajetória. Como se verá em seguida, Renato tem coisa para contar que daria um belo livro de memórias, pelo qual o cobrei insistentemente. Apenas um tema o Renato não desenvolveu. Perguntei a ele se não se incomodaria de falar sobre homossexualidade. É claro que não há, nem de longe, qualquer interesse sensacionalista da minha parte; o que me levou à pergunta foi o interesse no registro histórico de uma experiência geracional, de um pessoal que viveu realidades muito diversas das atuais.  A resposta foi ótima: “Sabes a paródia do ‘Tell me once again’? Kkkkk.. é por aí. Creio que essa nuvem cor de rosa de Priscila, Rainha do deserto não entrará nessa pauta. Simples: até hoje não me questionaram – diretamente – sobre o tema e, sério, a única vez que isso aconteceu foi eu comentar em off mas sem pedir que frisassem o fato, o sujeito gostou do que falei e tascou!! Não gosto dessa abordagem em mim mas… Posso te contar agora o que falei: ‘A Nega Lu, o Djalma do Alegrete e eu somos pessoas absolutamente distintas entre si e com trajetórias mais distintas em cada um. Embora sejamos negros e homossexuais'”. Essa clareza, cheia de ironia, deboche e angulação crítica, é uma das marcas da conversa e da personalidade do Renato, que aqui vai registrada.  A entrevista foi feita por WhatsApp, entre fins de abril e começos de junho, e editada pela Cláudia Laitano. – Luís Augusto Fischer Parêntese – Conta um pouco da tua história antes de chegar a Porto Alegre. Renato Rosa – Nasci na Campanha, na pacata São Gabriel, em cujas cercanias consta que morreu Sepé Tiaraju. Vivíamos numa casa de esquina, simples, de madeira e chão batido. Embora situada a uma quadra da praça principal, não havia banheiro dentro de casa. A patente era externa, num canto do terreno, e no outro extremo havia uma torneira de água encanada e uma tina. Meu nome foi escolhido por minha madrinha, Hedy Severgnini, uma loira linda, exuberante, que escrevia, tocava piano e compunha, e era amiga de infância e juventude de minha mãe. Ela achava que Sérgio Renato era um nome lindo, de galã de radionovela. Me criei em um ambiente cercado de mulheres fortes e viúvas.Vi, certa vez, minha […]

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