Resenha

Memória e esquecimento: as duas faces da mesma moeda

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Memória e esquecimento: as duas faces da mesma moeda

Juremir Machado da Silva lançou, em 2021, pela editora Sulina, o desafiador livro intitulado Memória no esquecimento*. Desde o título, o livro exige toda a nossa atenção enquanto leitores, pois cabe a pergunta: como pode haver memória no esquecimento? O autor busca essa resposta nas 310 páginas desse livro que, sem deixar de ser um romance, portanto uma obra de ficção, apoia-se em conhecimentos científicos sobre o mal de Alzheimer, tendo o autor recorrido aos conhecimentos do médico Leandro Minozzo, especialista nesse mal que acomete cerca de 35 milhões de pessoas em todo o mundo.  

O romance está estruturado em quatro partes, sendo a primeira intitulada “Dois olhares”, a segunda “Visto só de fora”, a terceira “Olhar interior” e a quarta e última “Olhares cruzados”.  Trata-se, na verdade, de dois narradores sendo um o próprio paciente, acometido da doença de Alzheimer, e o outro que podemos considerar como um observador que convive com o enfermo na mesma clínica geriátrica. Distinguem-se as duas narrativas pela estratégia usada pelo autor de colocar em itálico a narrativa do personagem-narrador que é portador do Alzheimer. Nenhum dos dois narradores têm nome próprio, contudo, o narrador acometido da doença dá nomes aos dois entes que povoam seu imaginário, ou seja, que fazem parte da memória que aflora em seu esquecimento: Luar, seu cavalo, e Lobo, seu cachorro em seus tempos de menino.

O romance inicia com uma pergunta que vai acompanhar o leitor durante toda a leitura: “O que é mais doloroso: não conseguir esquecer ou não conseguir lembrar”? (p. 11) O leitor fica sabendo de saída que o Alzheimer tortura o paciente duplamente: pelo esquecimento de suas memórias mais recentes e pela lembrança obsessiva de fatos do passado longínquo. O personagem narrador lembra de modo obsessivo seu passado remoto, ou melhor, o tempo de sua infância e do afeto que o ligava ao cavalo e ao cão.  

Intitulei essa resenha de Memória e esquecimento: as duas faces da mesma moeda, porque todos os principais teóricos que refletiram sobre a Memória, de Maurice Halbwachs, passando por Aleida Assmann e chegando a Jorge Luís Borges, são unânimes em afirmar que memória e esquecimento andam juntos, pois se não esquecêssemos nossa mente seria um acúmulo de lixo, como afirma o famoso personagem de Borges, Funes. A leitura do incontornável conto “Funes, o memorioso”, que é citado por praticamente todos os mais importantes autores que estudam na atualidade os diferentes aspectos ligados à Memória do ponto de vista filosófico, nos ensina que sem o esquecimento seríamos incapazes de criar, e até mesmo de pensar.  Portanto, precisamos da memória e do esquecimento para conseguir realizar o ato fundamental da memória que é ressignificar no presente os acontecimentos do passado. 

[Continua...]

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