Um romance como personagem
Estevão, uma das personagens do romance Estevão (editora Faria e Silva, 2021), de André Caramuru Aubert, está escrevendo um romance, Estevão, cuja figura central é um indivíduo (histórico) cujo nome é Estevão. Este romance dentro do romance se descortina ao leitor em estilhaços; nós o imaginamos (porque não o apreendemos senão em partes isoladas) uma biografia, ou um relato histórico, ou ainda uma aventura antropológica. A personagem do romancista Estevão vai encenar os primeiros movimentos do livro de André trilhando as regiões afetivas. O começo da narrativa capta uma hesitação. “Às vezes Estevão lamentava ter se divorciado, às vezes não.”
A ex-mulher, Simone, é uma presença-ausência. Mas havia nele a consciência de que a vida de solteiro era melhor. Com domínio dos recursos narrativos, André faz o desenho agudo desta interioridade da personagem valendo-se da sensibilidade de escritor para fazer dissolver na fala do narrador onisciente o discurso indireto livre. A vida de solteiro seguia melhor; mas no início do livro (que vai evocando alguma coisa dos últimos anos de solteiro) aparece uma nova mulher que põe em xeque a solteirice de Estevão. “E a culpada disso tinha nome: Juliana.”
[Continua...]