Retrato escrito

Alto da Bronze na voz de Elis Regina

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Alto da Bronze na voz de Elis Regina Alto da bronze, cabeça quebrada, praça querida.Sempre lembrada, a Praça Onze da molecada. Praça sem banco, do rato branco e do futebol,da garotada endiabrada, das manhãs de sol. Talvez a leitora e o leitor estejam se perguntando o que faz a canção Alto da Bronze aqui no Retrato escrito. Não seria este espaço um lugar para trechos de livros que retratem a cidade de Porto Alegre?  Respondo a vocês: nem sempre. Tudo bem, tudo bem. Não é a todo momento que letra e composição saem por aí, de mãos dadas, sendo consideradas uma manifestação literária como o romance, como a poesia, como o conto. Mas dá uma lida lá de novo e veja se não tem um pedaço interessante de cidade na letra. Não tem?  Melhor ainda: clica aqui no link (Alto da Bronze) e acompanha o ritmo na voz da Elis Regina que nos desloca para essa pequena praça na antiga Rua da Igreja, nossa atual Duque de Caxias. É forma literária também, não é mesmo? Se ainda não acredita, tem mais esse trechinho aqui, ó: Guardo a eterna lembrança do tempo feliz em que eu era criança,do tempo em que a vida era da minha infância a grande quimera. Hoje eu pobre profano me lembro de ti e dos meus desenganos.Oh! meu Alto da Bronze dos meus oito anos. Depois desses “meus oito anos” nem precisa dizer mais nada, será que precisa? Mas voltemos à praça.  Pereira Coruja em suas crônicas das “Antigualhas” afirma que Bronze faz menção a uma dita Felizarda que tinha o apelido de “não sei quê de bronze, mas por conveniência de pessoas sérias, a chamavam simplesmente a Bronze”.  Sei, as tais pessoas sérias.  Felizarda teria morado naquela região central da capital gaúcha e muitas histórias a seu respeito circularam naquele começo dos 1800. As insinuações de Coruja levam a crer que o autor via nela uma mulher de maus costumes. No fim a praça permaneceu desde sempre chamada de Alto da Bronze. Título que é mais notório que o oficial: Praça General Osório. Mas da personagem, que Coruja refere ter visto no Rio de Janeiro por volta de 1827, restaram apenas as fantasias e invenções impossíveis de uma confirmação histórica depois de tanto tempo.  Certo mesmo é que temos ainda viva a letra de Peri Azambuja Soares, o Foquinha. Ela que foi musicada por Paulo Coelho — um outro Paulo Coelho, tá certo? —, pianista atuante nos anos 1930 de Porto Alegre, que foi ex-aluno do Conservatório de Música e que tinha os cafés, as confeitarias e os salões de baile como palco. Ali (no link que você ouviu) Alto da Bronze é interpretada pela Elis. Numa expressão artística que hoje, 2019, nos permite olhar de novo para aquela resistente pracinha esportiva organizada para uso da criançada.  Canção que é literatura? Sim. Uma perspectiva que sabemos ser bastante nova para muita gente. Mas que vem reforçada, por exemplo, pelo Nobel do Bob Dylan três anos atrás. Talvez uma literatura ainda à margem, ainda na borda.  Mas, […]

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Alto da bronze, cabeça quebrada, praça querida.Sempre lembrada, a Praça Onze da molecada. Praça sem banco, do rato branco e do futebol,da garotada endiabrada, das manhãs de sol. Talvez a leitora e o leitor estejam se perguntando o que faz a canção Alto da Bronze aqui no Retrato escrito. Não seria este espaço um lugar para trechos de livros que retratem a cidade de Porto Alegre?  Respondo a vocês: nem sempre. Tudo bem, tudo bem. Não é a todo momento que letra e composição saem por aí, de mãos dadas, sendo consideradas uma manifestação literária como o romance, como a poesia, como o conto. Mas dá uma lida lá de novo e veja se não tem um pedaço interessante de cidade na letra. Não tem?  Melhor ainda: clica aqui no link (Alto da Bronze) e acompanha o ritmo na voz da Elis Regina que nos desloca para essa pequena praça na antiga Rua da Igreja, nossa atual Duque de Caxias. É forma literária também, não é mesmo? Se ainda não acredita, tem mais esse trechinho aqui, ó: Guardo a eterna lembrança do tempo feliz em que eu era criança,do tempo em que a vida era da minha infância a grande quimera. Hoje eu pobre profano me lembro de ti e dos meus desenganos.Oh! meu Alto da Bronze dos meus oito anos. Depois desses “meus oito anos” nem precisa dizer mais nada, será que precisa? Mas voltemos à praça.  Pereira Coruja em suas crônicas das “Antigualhas” afirma que Bronze faz menção a uma dita Felizarda que tinha o apelido de “não sei quê de bronze, mas por conveniência de pessoas sérias, a chamavam simplesmente a Bronze”.  Sei, as tais pessoas sérias.  Felizarda teria morado naquela região central da capital gaúcha e muitas histórias a seu respeito circularam naquele começo dos 1800. As insinuações de Coruja levam a crer que o autor via nela uma mulher de maus costumes. No fim a praça permaneceu desde sempre chamada de Alto da Bronze. Título que é mais notório que o oficial: Praça General Osório. Mas da personagem, que Coruja refere ter visto no Rio de Janeiro por volta de 1827, restaram apenas as fantasias e invenções impossíveis de uma confirmação histórica depois de tanto tempo.  Certo mesmo é que temos ainda viva a letra de Peri Azambuja Soares, o Foquinha. Ela que foi musicada por Paulo Coelho — um outro Paulo Coelho, tá certo? —, pianista atuante nos anos 1930 de Porto Alegre, que foi ex-aluno do Conservatório de Música e que tinha os cafés, as confeitarias e os salões de baile como palco. Ali (no link que você ouviu) Alto da Bronze é interpretada pela Elis. Numa expressão artística que hoje, 2019, nos permite olhar de novo para aquela resistente pracinha esportiva organizada para uso da criançada.  Canção que é literatura? Sim. Uma perspectiva que sabemos ser bastante nova para muita gente. Mas que vem reforçada, por exemplo, pelo Nobel do Bob Dylan três anos atrás. Talvez uma literatura ainda à margem, ainda na borda.  Mas, […]

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