Revista Parêntese

Editorial: 21, a edição de força tripla

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Editorial: 21, a edição de força tripla Esta edição tem três núcleos de força – se é que podemos falar assim numa revista que costuma ter só coisa muito boa, desculpada a imodéstia que é também a enorme alegria para este editor aqui e, espero, o leitor aí. Tem a entrevista com a Márcia Mura, um acontecimento que vale a pena testemunhar: uma mulher que conta seu processo de identificação como indígena, mediante militância e estudos. Mais uma vez, Parêntese quer auscultar aquele mundo enigmático, sempre promissor e invariavelmente ameaçado que é a Amazônia. Tem uma evocação a três vozes – Carlos Mosmann, Juarez Fonseca e Moisés Mendes, três jornalistas calejados – de uma figura ímpar, o Jefferson Barros, outro jornalista (Santiago, 1942-Porto Alegre, 2000). Filho de ferroviário comunista que era também leitor e poeta, Jefferson cresceu lendo muito e tentando entender o mundo. Mas não de modo ameno: ele queria entender tudo já, em equações grandes. Por isso virou jornalista? Pode ser. Lembramos algumas passagens da vida dele, sem esquecer que há uma fieira longa de outros episódios à espera de uma biografia. Seu tempo de Globo no Rio – a greve que ele liderou (e pela qual foi despedido logo), o telefonema do Delfim Netto, então no auge do poder, para Roberto Marinho, pedindo que o Jornal Nacional maneirasse na cobertura econômica, que era editada pelo filho do ferroviário. Convivi pouco com ele, e apenas em seus anos finais, mas sei um tanto porque ele foi casado com uma prima querida, e os dois tiveram duas filhas. A prima, Rosa Maria Bueno Fischer, por sinal, está na presente edição com um diário da espera. Espero não ser acusado de nepotismo – confira lá o texto dela e me diga, vigilante leitor. (Bem que a seção organizada pelo pessoal do Plantabaja pode compor esse núcleo também – imagens da espera, em casa. Já viu?) E tem a convergência de quatro textos sobre o tema das crianças em casa, em nossos tão caseiros dias. Um texto vem do Rio de Janeiro (Daniel Weller), outro de Santos (Ana Marson), outro de São Paulo (Julieta Jerusalinsky) e outro de Porto Alegre (José Luiz Ferraro). Bem, trata-se do tema de muita gente, agora, mundo afora. Uma pergunta velha e meio inaudível, “Pra que serve a escola?”, ganhou dramaticidade nova, que tentamos retratar aqui. Tudo isso estava armado antes de sabermos das mortes de gente importante na cultura brasileira, muito especialmente Rubem Fonseca. Unanimidades: grande escritor; um dos maiores contistas da língua; inventor de um estilo que abriu caminho para pencas de novos. Dono de linguagem enxuta, direta, impactante, deu a palavra para as tensões da grande cidade moderna brasileira, que até então aparecia pouco e mal na ficção – nos anos 30 e 40 ela teve registros bons mas comparativamente muito delicados (Os ratos, Caminhos cruzados, O amanuense Belmiro), e depois ela foi para o fundo do quadro, tendo ganhado mais força os personagens e seus dramas psicológicos (Clarice, Cony). Rubem Fonseca meteu o pé na porta e praticou o […]

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Esta edição tem três núcleos de força – se é que podemos falar assim numa revista que costuma ter só coisa muito boa, desculpada a imodéstia que é também a enorme alegria para este editor aqui e, espero, o leitor aí. Tem a entrevista com a Márcia Mura, um acontecimento que vale a pena testemunhar: uma mulher que conta seu processo de identificação como indígena, mediante militância e estudos. Mais uma vez, Parêntese quer auscultar aquele mundo enigmático, sempre promissor e invariavelmente ameaçado que é a Amazônia. Tem uma evocação a três vozes – Carlos Mosmann, Juarez Fonseca e Moisés Mendes, três jornalistas calejados – de uma figura ímpar, o Jefferson Barros, outro jornalista (Santiago, 1942-Porto Alegre, 2000). Filho de ferroviário comunista que era também leitor e poeta, Jefferson cresceu lendo muito e tentando entender o mundo. Mas não de modo ameno: ele queria entender tudo já, em equações grandes. Por isso virou jornalista? Pode ser. Lembramos algumas passagens da vida dele, sem esquecer que há uma fieira longa de outros episódios à espera de uma biografia. Seu tempo de Globo no Rio – a greve que ele liderou (e pela qual foi despedido logo), o telefonema do Delfim Netto, então no auge do poder, para Roberto Marinho, pedindo que o Jornal Nacional maneirasse na cobertura econômica, que era editada pelo filho do ferroviário. Convivi pouco com ele, e apenas em seus anos finais, mas sei um tanto porque ele foi casado com uma prima querida, e os dois tiveram duas filhas. A prima, Rosa Maria Bueno Fischer, por sinal, está na presente edição com um diário da espera. Espero não ser acusado de nepotismo – confira lá o texto dela e me diga, vigilante leitor. (Bem que a seção organizada pelo pessoal do Plantabaja pode compor esse núcleo também – imagens da espera, em casa. Já viu?) E tem a convergência de quatro textos sobre o tema das crianças em casa, em nossos tão caseiros dias. Um texto vem do Rio de Janeiro (Daniel Weller), outro de Santos (Ana Marson), outro de São Paulo (Julieta Jerusalinsky) e outro de Porto Alegre (José Luiz Ferraro). Bem, trata-se do tema de muita gente, agora, mundo afora. Uma pergunta velha e meio inaudível, “Pra que serve a escola?”, ganhou dramaticidade nova, que tentamos retratar aqui. Tudo isso estava armado antes de sabermos das mortes de gente importante na cultura brasileira, muito especialmente Rubem Fonseca. Unanimidades: grande escritor; um dos maiores contistas da língua; inventor de um estilo que abriu caminho para pencas de novos. Dono de linguagem enxuta, direta, impactante, deu a palavra para as tensões da grande cidade moderna brasileira, que até então aparecia pouco e mal na ficção – nos anos 30 e 40 ela teve registros bons mas comparativamente muito delicados (Os ratos, Caminhos cruzados, O amanuense Belmiro), e depois ela foi para o fundo do quadro, tendo ganhado mais força os personagens e seus dramas psicológicos (Clarice, Cony). Rubem Fonseca meteu o pé na porta e praticou o […]

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